Chamo-me Raphael Sousa — ou, ao menos, assim fui designado no mundo. Mas um nome é, em essência, uma convenção; e nenhuma convenção dá conta do mistério de um sujeito. Os cadastros e registros sabem o que fiz: sou advogado, cristão, escritor e teólogo. Mas esses rótulos, ainda que legítimos, apenas orbitam o que sou — não me atravessam. Pois o que sabem os registros sobre o ser que se põe em questão?
Formei-me em Direito pela Universidade Candido Mendes (2013), tornei-me Mestre em Direito Regulatório pela Fundação Getúlio Vargas (2016) e, mais tarde, Mestre em Direito e Economia pela mesma UCAM (2018). Acumulei diplomas — não por vaidade, mas por sede. A educação, para mim, nunca foi adereço; foi travessia. Foi o modo que encontrei de me insurgir contra o dado, contra o destino herdado, contra a repetição do Mesmo.
Mas nada disso, por si só, responde à pergunta fundamental: quem sou eu? E talvez a resposta mais honesta seja: sou um Outro — no pleno sentido da alteridade. Sinto-me sempre estrangeiro em mim mesmo, e é justamente por isso que me recuso a ser um Isso, uma coisa definível, uma função, um currículo. Habito a tensão entre o já-sido e o ainda-não. E é neste entre que respiro.
Sou, portanto, uma pergunta que caminha. Um ser-em-gestação. Meu “sou” não repousa — ele pulsa, escapa, excede. Não me interessa fixar-me em essências; antes, desejo permanecer em abertura. Meu ser está sempre por vir — não como fuga, mas como fidelidade à minha própria incompletude. E nisso encontro potência.
Foi a educação — os livros, as ideias, os encontros — que me permitiram pensar-me assim: como um vir-a-ser que recusa ser reduzido ao que já foi. Eles me resgataram do automatismo, do mundo-coisa, da lógica do Isso. Fizeram de mim alguém capaz de buscar o Tu — o encontro vivo, a relação verdadeira, o espanto do Ser.
Por isso, sigo comprometido — não com uma identidade pronta, mas com o processo de habitar o mundo com inteireza. Sigo escrevendo, pensando, tentando. Sigo... sendo.
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