PREFÁCIO
Márcia Dias dos Santos
Universidade Federal de Rondônia – UNIR
Campus Guajará-Mirim
A presente edição da obra Retextualização, nesta 5ª edição abordará os aspectos educativos, artístico-literários e descoloniais e conta com valiosos sete artigos e um ensaio escritos por pesquisadores e pesquisadoras de várias regiões do Brasil.
As pesquisadoras Antonia Cristina Valentim da Luz (UFMT) e Deise Leite Bitencourt Friedrich (IFRS), no capítulo 1, intitulado PROCESSOS DE RETEXTUALIZAÇÃO PRESENTES NO SEMINÁRIO ACADÊMICO abrem este livro e trazem reflexões e resultados de uma pesquisa realizada em quatro cursos de Bacharelado da Universidade Federal de Mato Grosso/campus Cuiabá, quais sejam: Ciência e Tecnologia de Alimentos, Engenharia Elétrica, Psicologia e Sistemas de Informação. Na pesquisa, discutem sobre os processos de retextualização presentes no Seminário Acadêmico. O objetivo do estudo foi evidenciar os processos de retextualização presentes na preparação e na apresentação do gênero, investigando as dificuldades encontradas pelos graduandos nestas duas etapas. Para tanto, adotaram a metodologia qualitativa ao analisar os relatos dos sujeitos. As reflexões que partiram das análises apontam para a necessidade de sistematização e ensino do gênero oral em foco.
No segundo capítulo, sob o título “ATRÁS DA PORTA”: CENAS CINEMATOGRÁFICAS INTIMISTAS DE SOLIDÃO, o pesquisador, Bento Matias Gonzaga Filho (UNEMAT) buscou evidenciar e exercitar a percepção de cenas de cinema na letra da canção “Atrás da porta”, de 1972, composta por Chico Buarque de Hollanda. Através dessa luz, discutiu a solidão intimista da personagem da mulher. Segundo Adélia Bezerra de Meneses (2001, p. 94) “a separação do casal é mostrada quase que cinematograficamente, pelo movimento de distanciamento da mulher em relação ao homem, como que focalizado por uma câmera de cinema”. A voz feminina abafada, suscitando cenas de um filme, é constante como algo íntimo, grão do corpo, em toda a composição de “Atrás da porta”. Na última estrofe, ela é a extensão imagética do dilaceramento da mulher abandonada e humilhada, mas é ao mesmo tempo, a possibilidade do grito, da expressão, do transbordamento no gesto dramático. Chico Buarque demonstra o apuro com o sentido do verso e a imagética a ser despertada no leitor ou ouvinte da canção, como se fosse a montagem de um filme, muito discutida nos textos de Sergei Eisenstein. Há a quebra e o conjunto ao mesmo tempo, o não paralelismo e a síntese. As imagens cinematográficas são decantadas pelo verso.
O capítulo três, REVISITAÇÃO E DESCONSTRUÇÃO DO MITO DAS ICAMIABAS NA OBRA PEQUENAS GUERREIRAS DE YAGUARÊ YAMÃ de Delma Pacheco Sicsú (UEA) e Luis Alberto Mendes de Carvalho (UEA), os autores dialogam acerca do mito das Icamiabas entre a versão produzida por Frei Gaspar de Carvajal e a versão do escritor indígena Yaguarê Yamã. Nesta discussão, problematizam a respeito da condição da mulher indígena e a função ideológica do mito, contrapondo o relato de Carvajal com a obra Pequenas Guerreiras de Yaguarê Yamã. Desse modo, as temáticas em tela são orquestradas a partir da revisitação e desconstrução do mito original presente em Carvajal. Os estudos de Jacques Derrida (2014; 2017), portanto, foram de suma importância para consistência desse trabalho, pois neles se encontram as bases fundamentais sobre a desconstrução a que farão menção. Tomaram de igual modo, como suporte teórico, os estudos de Campbell (1990), Mbembe (2014), Kopenawa (2015), Cassirer (2011), entre outros.
O pesquisador, Jesuino Arvelino Pinto (UNEMAT) e a pesquisadora Julianna Alves Bahia (UNEMAT) no capítulo seguinte, LITERATURA, HISTÓRIA E POLÍTICA NO ROMANCE PREDADORES:O PROCESSO DE (DES)(RE)CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA analisam o romance Predadores, de Pepetela, buscando apreender as formas de representação da condição itinerante que muitos grupos sociais se submetem em função das consequências de revoltas e guerras, modos de governo autoritários e mesmo de acidentes naturais. Ainda, refletem sobre a reestruturação das memórias na formação da identidade de um povo, tendo a personagem central, Vladimiro Caposso, como elemento catalisador da trama demarcada pelo período de 1974 a 2004, compreendendo trinta anos, a partir das lutas finais pela Independência de Angola. Nesse sentido, acreditam que a literatura pode servir de ferramenta de registro e manutenção dos costumes e tradições dominantes, uma vez que o discurso se materializa na oralidade e na escrita, que perpassam a História da evolução do homem como ser social. O suporte teórico do trabalho constitui-se em estudos que permeiam a relação Literatura, História, Política e Sociedade, perpassando pelas acepções de memória e identidade, como: Mata (1993), Candido (1976, 1989), Barthes (1988), Carvalho (2010), Hall (2006), Ricoeur (2007), Lukács (2000) dentre outros. No que tange à formação da identidade cultural, a literatura traduz peculiaridades locais, manifestando os traços do momento histórico e da realidade social nela abordados.
Em NOS CAMINHOS DA RESISTÊNCIA: A POÉTICA CASALDALIANA E A FORTUNA CRÍTICA, os pesquisadores Marcos Fabio da Silva (UNEMAT) e Henrique Roriz Aarestrup Alves (UNEMAT) apresentam uma parte expressiva da fortuna crítica produzida a partir de estudos da obra de Pedro Casaldáliga, com o objetivo de identificar os gêneros, temáticas e imagens recorrentes para, assim, delinear as características fundamentais da poética contemporânea de resistência presentes nas obras do autor.
O pesquisador Néstor Raúl González Gutiérrez, no penúltimo capítulo desta edição, sob o título: LITERATURA E OUTRAS ARTES: A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DE GÊNERO EM PRODUÇÕES FRANCO-LUSÓFONAS, analisa a construção da identidade de gênero a partir das perspectivas biopsicossociais nos contos “Maria Rapaz”, de Rosario Ngunza, e “Isaltina Campo Belo”, de Conceição Evaristo e na produção cinematográfica francesa Tomboy, de Céline Sciamma. Após o estudo das obras, debate a dicotomia gênero e sexo compara as obras reforçando temas como: a construção da identidade de gênero na infância, o corpo como elemento diferenciador biológico e cultural, a sociedade como moduladora das condutas e a violência de gênero como eixo transgressor da intolerância social.
Encerrando a sessão dos artigos resultantes de pesquisas de revisão bibliográficas e/ou aplicadas, a tríade, Rilane Silva Reverdito Geminiano (UNESP)
Sueli Guadelupe de Lima Mendonça (UNESP) e Luciana Raimunda de Lana Costa (UNEMAT), no capítulo, CIÊNCIA E EXPERIÊNCIA: CAMINHOS QUE SE CRUZAM NAS ALDEIAS DOS KATITÃULHU apresentam a escola como a principal precursora da mudança de perspectiva de todo ser humano, pois por meio dela se discute possibilidades de novos caminhos e tem por missão fazer a passagem para novos conhecimentos, novas tradições e novas linguagens. A partir de demandas de implantação de escolas indígenas, acreditam haver empecilhos tanto institucionais quanto culturais e ideológicos que impõem dificuldades para que o ameríndio tenha acesso à educação dentro da sua comunidade. A questão cultural e o entrave com o ensino científico oficial são uma das situações que se apresentam em debate para que a educação se torne um direito efetivo para a comunidade indígena. A dominação social e territorial persiste em transpor-se também para o âmbito de dominância do conhecimento. Neste sentido, o texto discute ainda, a implantação/implementação escolar no espaço das comunidades indígenas para além das regras do não indígena (horário, calendário, currículo e profissionais) para que a sua cultura e tradicionalidade sejam perpetuadas e difundidas com os novos povos.
No ensaio ANÁLISE MILTONIANA NO CLÁSSICO DA FICÇÃO CIENTÍFICA “20 MIL LÉGUAS SUBMARINAS” DE JÚLIO VERNE, o pesquisador, Tito José de Barba Avaroma apresenta o professor de geografia como transformador e transmissor de conhecimento, podendo usar as maneiras metodológicas mais significativas e que demonstram resultados satisfatórios no ensino-aprendizado, a utilização da leitura como método humanístico de tornar o educando autônomo. O incentivo a leituras de gêneros textuais variados pode ser um fator primordial no reconhecimento das múltiplas formas de expressão da escrita e que o professor pode ser um elemento fundamental na vida e na construção socioeducativa do indivíduo. Analisa a obra clássica de ficção científica de Júlio Verne – Vinte Mil Léguas Submarinas caracterizando-a como uma indicação de leitura primordial na construção de aulas de geografia envolvendo a leitura.
Nesse cenário, cumpre-se mais uma etapa na busca da socialização do conhecimento e do saber humano, por meio dos mais variados temas resultantes de pesquisas diversas nas áreas de Humanidades e Artes.
Parabéns aos autores, autoras e ao organizador.
Boa leitura!
Número de páginas | 190 |
Edição | 5 (2021) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Ahuesado 80g |
Idioma | Português |
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