Este é o meu quinquagésimo livro. Não vou dizer que não tenho orgulho deste número e que me empenho mesmo para que ele evolua para quantidades cada vez mais admiráveis. São pouquíssimas coisas que nos dão prazer neste ofício, ainda que por uma banalidade. Mas apesar dos pesares isto não é muito. Oito títulos deste total são de poesia bruta, apenas copiladas dos cadernos, sem instrução nenhuma. Outros oito tratam-se da Coleção Marco Zero, são antologias destes primeiros. No final das contas é tudo exercício. Não tem nada absolutamente inédito ou nada que eu também não tenha reescrito e dado uma cara nova em relação ao original. As revisões são infindáveis. O que sempre demanda que eu adquira um acervo atualizado. Eu desisti de vender. Só o trabalho que dá, não vale a pena, além da dedicação integral que isto exige. Vou distribuindo os acervos antigos, às vezes privilegiando os que ainda não conhecem a minha obra, às vezes oferecendo para quem realmente quer. O livro perdeu-se na História, assim como as mídias impressas, os CDs e DVDs. Ele ainda sobrevive pelo ranço da obsolescência, daquilo de extrair-se até a última gota. Não existe uma estratégia inteligente para que os suportes não se percam, para que a escala de produção não se comprometa e o livro permaneça ainda com algum gás. Seu futuro muito provavelmente será como o do vinil. Subsistirão os sebos e publicações viáveis a custos exorbitantes. Não é pouca coisa. Mas é o último suspiro. Pode até ser que venha uma nova onda, mas a chance é de realmente acabar. Em termos comerciais, nem em outro país nem nos áureos tempos - se algum dia nós os tivemos - esta produção toda minha é viável. Se tem algo na vida que pra mim é caríssimo é a minha poesia. Qualquer figura que ultrapassa o meu limite tênue de favores e opiniões eu mando ir pastar sem dó. Isto me compromete assaz, pois é também a regra geral. Dentro do meio independente as visões são muito pouco consolidadas e tudo que sai é na bacia das almas. Poesia é um gênero amigável, metade do mundo a produz, é a forma mais comum de expressão e, portanto com uma oferta enorme no mercado. Ninguém quer. O sujeito paga pra ser publicado, mas o destino destes livros é amiúde desolador. Cinquenta, cem... Talvez fosse bom ter um só, um resumo fino da minha alma em que o leitor se desse por satisfeito. Mas isso é impossível. E para ambas as partes!
Número de páginas | 98 |
Edição | 1 (2019) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 80g |
Idioma | Português |
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