Eu tive várias chances de conhecer a Grace. Ela me deu mole ainda uma porrada de vezes. Mas como muitas garotas que eu perdi na minha juventude, eu não dei conta dela também, areia demais para o meu caminhãozinho, para minha moral de poeta fajuto, manso e preconceituoso. “I believe in a thing called love.” Cheia de charme ela ainda tenta me dar um nó. Não estou brincando, é perfeitamente possível. Basta aprender a ouvir. Meu ouvido esquerdo está meio defasado. De tanto metê-lo cotonete posso tê-lo comprometido. É uma tara. Este brincar com os fluidos, seus cheiros, cutucar cravos e espinhas, ir a fundo. Talvez tenha puxado uma parte do cérebro, também já não enxergo muito bem. Estou ficando velho, preciso ir ao médico... E que remédio! As leis já estão desacreditadas, as velhas palavras, isso em todas as dimensões. Enfiam-nos goela abaixo os mais toscos absurdos e nos soltam no pasto como ovelhas tosadas. Acabaram-se os otários, isto ainda era um honroso senso crítico. Nossa safra já foi vendida, logo estaremos na China sem nunca termos expressado sequer um mugido. O amor me matou e foi só pelo marfim. Que tédio...
Número de páginas | 124 |
Edição | 1 (2020) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 80g |
Idioma | Português |
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