“Ainda é cedo, amor/ Mal começaste a conhecer a vida/ Já anuncias a hora de partida/ Sem saber mesmo o rumo que irás tomar...” A voz rouca do Cartola, simples, quase sem tempero, a marmita pobre mesmo do operário, ou mesmo o prato de ágata do morador do morro, do subúrbio, do favelado, apenas o arroz com feijão, talvez um chuchu, uma abobrinha, quando muito um pequeno naco de carne, um acém, um músculo, ou uma linguiça, uma salsicha, um ovo. Os acordes futuristas, uma pequena sonata, o arranjo pomposo do Guilherme Arantes na sua bela canção “Amanhã”. O pai pesaroso pela inquietação da filha, o jovem artista com a sua mensagem de otimismo, o seu futuro promissor. É engraçado como hoje os mundos se misturam e um prato simples virou gourmet. Está todo mundo na mesma merda e criaturas completamente ignorantes exibem um tremendo sucesso. A História é recheada destes momentos de desordem, muitos valores têm caído por terra, daqui a pouco estaremos encantados com alguma boa mentira e acharemos lindo comer insetos. É incrível a força que o classe média faz para parecer normal. Suas peripécias amorosas, seus gastos incompatíveis, sua cultura sempre tacanha, caindo pelas tabelas, pouco tempo mesmo para adquirir alguma consistência, seu medo constante, sua tola ambição: sem-tetos que se acomodam na frente do seu prédio, o colega que aparece com um carro do ano, as promoções disputadas na cotovelada, as futricas dos ambientes corporativos. Quem ganha com isso é só a malandragem. Mas a vida está correndo. “Amanhã/ Apesar de hoje/ Será a estrada que surge/ Pra se trilhar”!
Número de páginas | 130 |
Edição | 1 (2018) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 80g |
Idioma | Português |
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