O cheiro do beijo

A cidade nunca para.

Ônibus cruzam as avenidas como veias pulsantes, sirenes cortam a madrugada, passos se atropelam nas calçadas. O tempo segue impiedoso, arrastando todos para a pressa dos dias que não esperam ninguém.

Isabela voltou às telas, às cores que lutam contra o cinza. Rafael voltou aos papéis, às reuniões que insistem em preencher seus horários. À primeira vista, nada mudou. A rotina, implacável, os engoliu de novo.

O cheiro do beijo permanece.

Não é o toque.

Não é a palavra dita.

É aquilo que resiste quando o instante se dissolve, quando o tempo insiste em apagar memórias.

Talvez sigam juntos. Talvez a vida os separe. Não importa.

Alguns beijos duram segundos. Outros, mesmo interrompidos, atravessam a vida inteira.