O isolamento das pessoas, o interdito do diálogo presencial, da livre escolha de se estar onde, da forma e com quem quer que fosse e se escolhesse, aprofundou o sofrimento de muitos pelo mundo. Tendo sido a liberdade interditada, a saúde mental também esteve colocada em teste, por vezes de maneira extrema.
Para muitos, a solidão imposta pela pandemia tornou-se quase insuportável. Afinal, era essa a questão central: como é que pode, ainda que em nome da saúde, ainda que em um relativo espaço curto de tempo, vivermos excluídos, confinados do contato humano, das pessoas que gostamos, da liberdade?
Para outros, no entanto, o isolamento social em nome da saúde e do cuidado, a ruptura dos laços sociais e a interferência na liberdade já não eram vivências desconhecidas. É de onde nos fala o ilustre autor das narrativas e experiências apresentadas nesta obra.
Muito antes da pandemia de COVID-19, o autor deste livro conheceu o silenciamento, a solidão, a segregação e a proibição radical de escolher onde e com quem gostaria de estar - tudo sob o falso manto do cuidado e da saúde. Roque Junior - nosso literato escritor - foi, ao longo dos últimos 30 anos, submetido a oito internações em hospitais psiquiátricos. Subjugado em tratamentos cruéis, desumanos e degradantes, passou por sessões de eletroconvulsoterapia - popularmente conhecida como eletrochoque. Foi medicado compulsória e excessivamente. Teve, a partir de tudo isso, sua fala anulada. Sua liberdade, algo de mais precioso na existência humana e reivindicada como imprescindível pela coletividade em 2020, lhe foi roubada por longos anos - tudo em nome de suposta saúde e cuidado.
A diferença da experiência vivenciada pelo autor com suas internações em manicômios e da vivenciada globalmente em 2020 é que as medidas de enfrentamento à pandemia verdadeiramente se voltam à proteção e à saúde coletiva. Já a aniquilação dos manicômios foi, e continua sendo para milhares de brasileiros, fruto do preconceito, da ignorância e do interesse escuso do lucro empresarial a partir da segregação, não podendo em nenhum aspecto ser considerada qualquer estratégia de produção de saúde.
É nesse enredo que o escritor Roque Junior apresenta, sem máscara, sua vida, sua rotina e suas transformações no emblemático ano de 2020, em plena pandemia. E o principal: é por meio da escrita que ele fala, que ele escolhe, que ele define, que ele aprende, que ele supera, que ele organiza a luta coletiva. Isso só é possível porque é livre. Porque o manicômio passou pela vida dele(passou, porque está “passado”), mas não o engoliu, como fez com tantos milhares.
E porque ele é livre, é que pode nos brindar com a sua narrativa; é também por isso que a sua narrativa tem espaço para ser validada, com suas experiências, com suas sabedorias e com sua pulsão de vida.
Embarquem nesse percurso! Sigam o fio.
ISBN | 978-65-000-9183-0 |
Número de páginas | 104 |
Edição | 1 (2021) |
Formato | Pocket (105x148) |
Acabamento | Brochura s/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 80g |
Idioma | Português |
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