Há 1.800 anos antes da Era Comum aproximadamente, um homem “árabe”, que é mais conhecido pelo nome hebraico Yiôv, traduzido como Jó, travou uma grande batalha espiritual, conjugal, familiar, fraternal e sobretudo ´existencial´.
Podemos extrair diversas lições desse livro, por uma razão muito óbvia. Afinal, o mais importante de qualquer livro da Torá e do Tanach não é a história em si, e sim a historiografia, isto é, a história por trás da história.
Os Sábios da tradição judaica consideram esse livro poético o mais antigo de todos os livros da Torá e do Tanach, incluindo o livro do Gênesis.
A maioria dos acadêmicos atestam a autoria a Moisés, que também teria escrito, Gênesis (B´reshit), Êxodo (Shemôt), Levítico (Vayikrá), Números (Bamidbar) e Deuteronômio (Devarim).
O drama de Jó, se desenvolve em torno da tentativa de dar sentido aos infortúnios que qualquer ser humano poderá enfrentar.
É comum encontrarmos pessoas por aí, que acham que podem controlar completamente a sua vida, ou por conta de ter um belo casamento, ou uma boa família, ou pelo poder aquisitivo, ou pelo fato de ser uma pessoa hiper-religiosa, como era o caso de Jó antes de conhecer ao Senhor.
A lição que fica para todas as gerações, é que independente de ser justo ou ímpio, religioso ou arreligioso, rico ou pobre, espiritual ou materialista, todos nós estamos fadados a passar pelas coisas ruins e não apenas pelas boas coisas nessa vida.
O livro de Jó é um poema dramático, dividido em quarenta e dois capítulos.
Os personagens são Jó, sua esposa mencionada apenas uma vez em 2:9, seus três companheiros - Elifaz, Bildade e Zofar - Eliú, Deus (atributo de juízo) e o Senhor (atributo de misericórdia).
De acordo com Tamar Kadari, a esposa de Jó é alvo de crítica moral, por aconselhar seu marido a abençoar, com uma conotação de blasfemar. Jó, diferente de Adão não teria aceitado o conselho de sua esposa, para o mal.
Em Jó 2:9 relata, que depois de todos os desastres ter acontecido na vida de Jó, sua esposa lhe disse que ele deveria amaldiçoar a Deus por tudo o que havia acontecido com eles.
Alguns intérpretes dizem que na visão da esposa de Jó, essa blasfêmia poderia resultar na morte imediata de Jó, libertando-o assim de seu sofrimento.
Na verdade, no texto hebraico não aparece o verbo amaldiçoar (do hebraico מקלל “mekalel”, “amaldiçoa”) e sim abençoar (ברך “barêkh”, “abençoa”); entretanto os Sábios da tradição judaica afirmam que se trata de uma declaração irônica, pois embora ela tenha dito “abençoe”, “barêkh”, a intenção era que Jó “amaldiçoasse” [Logo, a esposa de Jó teria feito uma declaração com tom de ironia]. Nesse sentido, ironia é um recurso hermenêutico.
O conselho de sua esposa, que talvez tenha manifestado seus sentimentos de pena e compaixão, apenas aumenta a angústia de Jó neste ponto mais baixo de sua vida e torna difícil para ele resistir a esse teste.
Jó, no entanto, aprendeu com seu antecessor Adão e não deu ouvidos a sua esposa. Adão ouviu sua esposa e pecou ao comer da Árvore do Conhecimento.
Sabemos que quando a nossa emoção tenta persuadir nossa razão é extremamente difícil suportar.
Mesmo assim, Jó resiste a essa tentação e não segue o conselho de sua esposa; pelo contrário, ele responde ao plano dela (Jó 2:10) e diz: “Devemos aceitar apenas o bem (benesses) de Deus e não aceitar o mal (infortúnios)? ”
O livro de Jó nos leva ao amadurecimento, para que aceitemos do Senhor tanto as coisas que agradam como as que nos desagradam.
Jó destacou que sua esposa tinha que aceitar o mal da parte do Senhor, na tentativa de justificar o suposto “julgamento divino” (B´reshit Rabá 19:12).
É muito comum o ser humano deixar de agradecer a Deus, quando as coisas vão bem e em contrapartida blasfema contra o Criador, quando as coisas dão erradas.
O mesmo acontece, quando Deus concede generosidade a alguns seres humanos que são gratos quando tudo está dando certo e também quando tudo está dando errado.
Um exemplo disso vemos na declaração de Jó quando disse (1.21): “O Senhor deu e o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor”, [tanto para o bem como para o mal].
Quando sua esposa lhe diz (2:9): “Você ainda mantém a sua integridade! Blasfeme contra Deus e morra!” [Na verdade no texto hebraico está escrito, “barêkh Elohim va-mút”, “abençoe a Deus e morra”], Ele responde: “Você fala como qualquer mulher que sem nenhuma vergonha falaria! [Isto é, você fala como as mulheres gentílicas que amaldiçoam seus deuses, quando o sofrimento lhes sobrevém]. “Mas nós, que agimos tão bem em resposta ao bem, não deveríamos agir assim em face de nosso sofrimento? ” (Mekhilta de-Rabbi Ishmael, Masekhta de-Ba-Hodesh, Yitro10).
Após a rejeição de Jó ao conselho de sua esposa, as Escrituras observam (2:10): “Por tudo isso, Jó nada disse pecaminosamente com os lábios”.
Em relação a tal declaração de Jó, os rabinos entendem como significando, que ele não pecou com os lábios, mas teria transgredido em seu coração.
Eles interpretam as seguintes declarações de Jó com este espírito, como uma alusão à sua heresia contra Deus. Assim, por exemplo, Jó diz (9:24): “A terra é entregue ao maligno [Rashi interpreta a porção, “nas mãos de um iníquo ou maligno”: referindo-se ao Adversário]”, refutando assim a Deus ao afirmar que o mundo é dirigido pelas forças do mal, sem a Providência Divina.
Em Jó 10:7 ele diz: “Vós sabeis que não sou culpado e que não há quem me livre das Tuas mãos”. Ao dizer isso, Jó tenta libertar o mundo inteiro do julgamento divino. Ele argumenta que tudo o que uma pessoa faz é predeterminado por Deus, e, portanto, ele não é culpado por suas ações.
Devemos sempre levar em consideração que o momento em que Jó está questionando sobre o que ele está passando, é um momento de profunda pressão psicológica. Não é nada simples o que Jó está vivenciando, naquele momento.
A cada dia que passava, Jó procurava entender as razões diversas, sobre o que teria realmente acontecido. Será que ele passou por tudo o que passou, por ser tão protetor dos seus filhos, beirando a interferência do livre arbítrio deles? Uma vez que lemos (1:5), “ ... que tendo decorrido o turno de dias de seus banquetes, enviava Jó, e os santificava, e se levantava de madrugada, e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles; por que dizia Jó: Porventura, pecaram meus filhos e blasfemaram de Deus no seu coração”. O texto é bem claro ao dizer que Jó fazia isso continuamente (1:5).
Será que ele passou por tudo isso, porque o que ele mais temia lhe sobreveio, e o que ele mais receava acabou acontecendo? Cf. Jó 3:25.
O que ele mais temia era o juízo de Deus por consequência ou de seus pecados ou de seus próprios filhos. Vale ressaltar que temer ao Senhor no que diz respeito a Torá e o Tanach, sempre estará no sentido de reverência e não se aplica a forma como Jó temia, pois no caso dele era um temor proveniente do medo, por isso no livro de Jó lemos que ele temia a Deus (do hebraico elohim, e que nesse caso aplica-se ao aspecto do juízo), antes de realmente conhecer ao Senhor (do hebraico YHWH, e que nesse caso aplica-se ao aspecto da misericórdia) (Jó 42:5).
De acordo com Rashi, o problema teria vindo na vida de Jó pelo excesso de preocupação de que um dia cessasse o ciclo das festas, o ajuntamento familiar e os sacrifícios em prol aos seus filhos (Jó 1:5).
De qualquer forma será que Jó realmente temia a Deus por nada? Afinal, ele tinha um casamento aparentemente perfeito, 10 filhos amáveis, sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois, quinhentas jumentas, muitos empregados, a ponto de ter sido considerado maior do que todos os do oriente (Cf. Jó 1:3).
Quando comparamos Jó com Noé, perceberemos que Jó não era um tzadik (justo) como Noé (Cf. Gênesis 6:8) e por isso lemos que Jó foi considerado “temente a Deus” e alguém que “evitava o mal”, por medo e não por reverência, uma vez que ele só conhecia superficialmente o aspecto de juízo e não o atributo de misericórdia.
Quando investigamos os textos referentes ao livro de Jó com base no texto original, descobrimos muitas coisas extremamente importantes. Por exemplo, de forma superficial deixamos passar despercebidas algumas pistas, que justificariam aquilo que Jó passou.
Número de páginas | 117 |
Edição | 1 (2022) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 80g |
Idioma | Português |
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