A obra, “Sociologia & Educação: Múltiplos Olhares do Ensino no Brasil e em Angola”, se insere no contexto de conhecer o que é produzido academicamente nos países. A relação Brasil e Angola é histórica, mas não se traduz na produção do conhecimento entre os países, em especial na Sociologia. O currículo brasileiro em suas disciplinas é eurocêntrico, com pouco espaço para os conteúdos que chegam dos países do Sul. Em grande medida, o saber não eurocêntrico não é reconhecido como válido. O objetivo de legitimar outros saberes. O silenciamento das inteligências nos incomoda.
No primeiro capítulo, “Itinerário do Ensino de Sociologia nas instituições do ensino secundário em Angola”, Adérito Manuel discorre sobre a trajetória da Sociologia nos bancos escolares. Percebemos a dificuldade de inserção da disciplina e a importância dos aspectos políticos no cenário da educação. A discussão mostra que a Sociologia ainda não é uma área valorizada, profissionalizada, reconhecida e cientificamente consolidada. É importante buscar sociólogos comprometidos, com forte militância em defesa da Sociologia para criar ambiente institucional favorável para o desenvolvimento epistemológico. O desafio está lançado.
O capítulo seguinte, de Guilherme Mateus Moma, intitulado “O impacto da Sociologia no sistema de ensino: teoria e prática” nos convidam a refletir sobre as reformas educativas em Angola. Para isso debate os currículos e discorre sobre os conteúdos a serem ministrados. O autor propõe um currículo articulado entre o universal e o tradicional, sobretudo com ênfase na realidade local. Ainda assim, Moma questiona a situação da Sociologia em Angola com enormes adversidades a serem enfrentadas.
Filipe Calunga Morais em, “Para um funcionamento da sociedade sociológica angolana: rumo a promoção e desenvolvimento da ciência”, aponta o papel das associações científicas na produção do saber. Em Angola pouco se fala das associações científicas, e como o campo da Sociologia é muito recente, esse descuido prejudica a institucionalização como campo científico. Aborda-se a trajetória da Sociologia e a descontinuidade nas associações científicas criadas, bem é chamada a atenção para o esforço dos sociólogos na criação do ethos da ciência no país.
O quarto capítulo, de Gildo Joaquim Salvador, “Iniciação à investigação científica no plano curricular do Ensino Secundário Geral: perspectiva sociológica do caso angolano”, nos traz uma reflexão crítica em torno da emergência da aplicação da disciplina de iniciação científica no Ensino Secundário Geral. Investiga as reformas educacionais, analisa o desenvolvimento curricular no país, critica as “escolas apressadas” que faz professores serem meros funcionários do ato pedagógico que acontece em sala. Defende a valorização da pesquisa científica entre estudantes e professores.
Rodrigo de Souza Pain apresenta “´Por favor, abram o livro na página...´Obras didáticas de Sociologia e as consequências no trabalho docente”, ao trazer a trajetória da disciplina de Sociologia nos currículos no Brasil. Importante constatação é perceber a intermitência da área nos currículos ao longo do tempo. A seguir faz importantes reflexões sobre as obras didáticas. Diante das inovações tecnológicas dos avanços neste setor, os livros didáticos continuam importantes como ferramenta de apoio ao professor de Sociologia.
O sexto capítulo, intitulado “Características, dinâmicas e objetivos do projeto de extensão da UERJ ‘Sociologia e Cidadania’”, do autor Walace Ferreira, nos oferece ótima oportunidade de reflexão sobre a importância dos projetos de extensão, que leva o conhecimento acadêmico para além dos muros universitários, no contexto do Ensino de Sociologia. O projeto orienta conteúdos de Sociologia, debates com universitários, promovendo importante articulação entre universidade e escolas.
Joana da Costa Macedo discute “A reforma curricular nas escolas do Brasil: alguns pontos de discussão sobre o componente curricular Projeto de Vida e BNCC”, com foco sobre as reformas da educação no Brasil, e o impacto na área de Sociologia. A reforma curricular em curso se percebe neoliberalizante, desorganizada, individualista, em cenário de competição e com extrema valorização do mercado. Reflete o espectro político liberal e conservador que o país experimentou. Reflete sobre a disciplina “Projeto de Vida”, calcada na trajetória individual, de valorização da meritocracia, de modo que isola o estudante e sua trajetória dentro da escola.
O oitavo capítulo, “Projetos de vida rumo à universidade: trajetórias estudantis de seis alunos cotistas do curso de direito da UERJ”, de Diego Cavalcanti de Santana reflete qual o lugar da escola nos projetos de vida dos jovens de baixa renda. Com sólida base teórica, analisa a importância do ambiente familiar como elemento pedagogicamente incitante, estimulando jovens na leitura, na escrita e no aprendizado. O autor também enfatiza a relevância do ambiente escolar (inteligência institucional) e dos docentes e do estudante institucionalmente engajado.
O livro é uma obra coletiva, fruto de anos de estudo e pesquisa por parte dos autores brasileiros e angolanos. Notamos a falta de reflexões e trocas de experiências no Ensino de Sociologia, a obra tenta preencher minimamente essa lacuna. Desta maneira é um livro inédito, uma ousada iniciativa. Esta obra aproxima os dois países no campo das Ciências Sociais. Nosso esforço é nos fortalecer academicamente, socialmente e institucionalmente.
ISBN | 9786585212243 |
Número de páginas | 215 |
Edição | 1 (2023) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Tipo de papel | Estucado Mate 150g |
Idioma | Português |
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