O exercício da política é, certamente, uma das mais elevadas atividades humanas já concebidas porque trata da organização do governo ou autoridade constituída, da distribuição do poder e, por extensão, da forma como os assuntos mundanos são decididos em favor – não raro, em desfavor - da coletividade.
O Ocidente democrático foi forjado pelo legado grego-ateniense que enfatizou a democracia direta no espaço público e também pelo legado romano que valorizou o republicanismo. Em sua produção prolífica, Hannah Arendt analisou criticamente a contribuição desses dois antigos pilares que sedimentaram o que hoje se convencionou chamar de democracia constitucional.
Mas Arendt foi além da mera análise da política como a luta entre grupos ou partidos pelo poder dentro de procedimentos consistentes em eleições livres e equitativas. Dito de outro modo, Arendt não se contentou com a concepção minimalista ou procedimental de democracia (tão ao gosto das teorias institucionalistas do tempo presente), mas, ao contrário, nos forneceu ferramentas e análises críticas que puseram a política numa perspectiva abrangente com fronteiras fluídas ou interconectadas entre as liberdades individuais, que valorizava, e a necessidade de incrementar a participação popular nos processos de tomada de decisão política, que ela ansiava.
Dizer que Arendt se constitui em uma autora do espaço público não é, portanto, suficiente para descrever sua vasta produção e a profunda riqueza analítica do seu pensamento político. Não será exagero ponderar que o legado de Arendt se apresenta como um farol que ilumina, a um só tempo e ainda hoje, a defesa crítica da democracia liberal contra os avanços dos movimentos autoritários – tão comuns nos dias de hoje quando se fala em “morte da democracia” -, bem como a necessidade de esgarçar suas instituições políticas para torná-las permeáveis à participação popular.
A presente coletânea reverbera e atualiza, assim, o pensamento político de Hannah Arendt. Dentre os capítulos apresentados, vemos como uma questão relacionada à manipulação da mídia pode ser interpretada à luz do pensamento arendtiano como sucede no trabalho de Nádia Alvarenga e Diego Mascarenhas ao escrutinar um episódio contemporâneo, assim como pelo trabalho de Celso Vaz ao tratar da verdade e mentira na política, tema atualíssimo considerando a robusta disseminação de fake news na arena política no tempo presente.
Do mesmo modo, a abrangência das contribuições teóricas de Arendt é revisitada criticamente nos escritos de Ival Picanço Neto, Ivan Pontes, Vitor Monteiro e André Oliveira. Ambos, respectivamente, destacam as contribuições da autora para a crise ocidental da tríade tradição-autoridade-religião, sobre a imortalidade do mundo e a igualdade complexa.
Farol perene da liberdade e fonte infindável de reflexões sobre o desafio de alargar os limites da democracia, Hannah Arendt segue atual entre nós como atesta a presente coletânea que ora se entrega aos leitores interessados no exercício da política não como uma atividade restrita a grupos ou partidos, mas como algo que pertence indissociavelmente à condição humana, à sua necessidade de fazer parte integrante do nosso tormentoso mundo unindo a dimensão individual à coletiva.
ISBN | 9786599835711 |
Número de páginas | 185 |
Edição | 1 (2022) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Estucado Mate 150g |
Idioma | Português |
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