Em tempos de espraiamento da pandemia de COVID-19 nos vários cantos do globo terrestre e de elevação assustadora dos números de infecção, internação e óbito, o Brasil se destaca nos noticiários nacionais e internacionais pela adoção da política de morte, pelo boicote às ações de enfrentamento da pandemia, por ataques desmedidos à ciência e à intelectualidade. Esse projeto político coloca o Brasil num cenário pouco animador quanto à vitória sobre a pandemia, à retomada do trabalho e da formação presenciais, dos encontros em família, das manifestações de rua etc. Enquanto isso, nós buscamos nos nutrir de esperança e luta para não sucumbir e não permitir que o negacionismo, o bolsonarismo e a política de morte tenham a palavra final.
No intuito de garantir a biossegurança, o trabalho e o ensino remotos vêm se desenhando como alternativas possíveis de continuidade das atividades de ensino, pesquisa e extensão universitária, ainda que precárias e limitadas, intensificando e precarizando as condições de trabalho e de formação profissional. As demandas se avolumam: ensino remoto na graduação e pós-graduação, aulas síncronas e assíncronas, intermináveis reuniões on-line, orientações, bancas de qualificação e defesa de dissertações e teses, reuniões de colegiado, revisão de artigos, participação em comitês de periódicos e eventos científicos, dentre outras.
Reconhecendo a atualidade do debate sobre o processo formativo em meio à pandemia de COVID-19 e os dilemas que permeiam esse contexto, brotou o interesse de produzir uma coletânea que trouxesse luzes em torno desse cenário e ajudasse a pensar em caminhos possíveis. Assim, a muitas mãos, pesquisadores das várias regiões do país, mesmo sobrecarregados pelo trabalho remoto, abraçaram o desafio de contribuir nessa reflexão.
Trata-se também de um esforço que brota do compromisso assumido pelo projeto “A formação e o trabalho profissional do assistente social: aproximações e particularidades entre Amazônia e Sul do Brasil”, desenvolvido no âmbito do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica na Amazônia (PROCAD Amazônia), conduzido pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e Universidade Federal do Pará (UFPA).
O livro é composto por sete capítulos que analisam a conjuntura e problematizam a precarização das condições de trabalho, os desafios de condução da formação profissional na graduação e na pós-graduação, o ensino remoto emergencial e o estágio supervisionado em Serviço Social, asseverando a necessidade de defesa da vida e de manutenção da fidelidade aos princípios que norteiam o projeto ético-político do Serviço Social brasileiro.
À luz dos preceitos marxianos, Roberta Ferreira Coelho de Andrade, Aldair Oliveira de Andrade e Jane Cruz Prates, no capítulo As novas velhas contradições pelas lentes marxianas: críticas ao ensino superior brasileiro em tempos de pandemia, trazem para o centro do debate as contradições presentes na realidade brasileira e, em particular, no ensino superior brasileiro, momento em que chamam a atenção para o ataque à intelectualidade e à ciência, num contexto de aprofundamento da pandemia no país.
No capítulo Formação e Serviço Social em tempos de COVID-19, Tatiana Reidel e Luciana Cantalice discutem os desafios que se apresentam à formação profissional em Serviço Social num contexto tão adverso. Para tanto, situam a conjuntura e os dilemas que se põem à condução da graduação e a pós-graduação, oportunidade em que salientam a atuação primordial das entidades da categoria em favor da formação e do trabalho profissional de qualidade.
Vera Lúcia Batista Gomes, em Precarização da formação profissional em serviço social no contexto da pandemia da Covid-19, põe em relevo as contradições entre a garantia da biossegurança e as estratégias adotadas para a continuidade da formação graduada e pós-graduada em Serviço Social, chamando a atenção para os riscos do ensino remoto emergencial.
Marinez Gil Nogueira Cunha, Hamida Assunção Pinheiro e Clivia Costa Barroco, no capítulo A Pandemia da Covid-19 e seus impactos na pós-graduação em Serviço Social da UFAM, lançam luzes sobre a formação pós-graduada em Serviço Social no contexto da pandemia de COVID-19, com atenção especial ao ensino remoto emergencial (ERE), trazendo as particularidades do Programa de Pós-graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia (PPGSS) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
No capítulo Grupos e núcleos de pesquisa para a formação e suas estratégias frente à Covid-19, Jane Cruz Prates e Erica Bomfim Bordin discutem o papel formador dos grupos e núcleos de pesquisa tanto para a graduação quanto a pós-graduação em Serviço Social. Num cenário de isolamento, de ensino e trabalho remotos, os encontros dos grupos e núcleos de pesquisa mantêm acesa a chama da crítica, do debate científico, das trocas, da produção do conhecimento.
Cirlene Aparecida Hilário da Silva Oliveira, a partir de toda a sua experiência no debate da temática, no capítulo Formação profissional em Serviço Social e o estágio supervisionado no contexto pandêmico, enfatiza que, num contexto tão desafiador marcado por uma pandemia e imposição do ensino remoto, é necessário ratificar os princípios que sustentam a formação profissional de qualidade, o que pressupõe reconhecer e defender o estágio como atividade curricular teórico-prática, que articula as dimensões teórico-metodológica, ético-política, técnico-operativa e investigativa, inerentes à profissão.
No capítulo No olho do furacão: o estágio supervisionado em Serviço Social em tempos da Covid-19, Vivianne Batista Riker de Sousa e Roberta Ferreira Coelho de Andrade discutem o estágio supervisionado em Serviço Social em meio à pandemia ocasionada pela COVID-19. Ao longo do texto, explicitam que, em tempos de ensino remoto, há muitos desafios à condução do estágio em Serviço Social, num contexto repleto de armadilhas para o campo da formação profissional.
Diante de desafios tão grandiosos e de uma nefasta política que conduz o país, precisamos, mais do que nunca, reafirmar nossos princípios ético-políticos, resistir e nutrir a luta pela superação dessa estrutura social, que segue a subjugar o trabalhador. Nessa conjuntura que nos parece escura, fria, assustadora, queremos afirmar como o poeta amazonense Thiago de Mello: “faz escuro, mas eu canto, porque a manhã vai chegar [...]. Vamos juntos, multidão, trabalhar pela alegria, amanhã é um novo dia”.
ISBN | 978-65-993-7580-4 |
Número de páginas | 241 |
Edição | 1 (2021) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Estucado Mate 150g |
Idioma | Português |
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