Editorial
Seguindo a lógica do pensamento de Thomas Samuel Kuhn, o ciclo de um paradigma científico compreende três movimentos progressivos e distintos: primeiro, há a fase pré-paradigmática, marcada pela intuição de novos objetos de pesquisa, novas ideias, métodos e técnicas que se insurgem contra o paradigma dominante, mas ainda convivem em relativa em harmonia com este. Esta convivência só é possível, porquanto o novo paradigma não tenha ainda se consubstanciado, revelando muitas discordâncias entre os seus protagonistas. Em seguida, é introduzida a fase paradigmática, em que ocorre um consenso entre os cientistas postulantes do novo paradigma sobre o arsenal metodológico-epistemológico de que lançarão mão. Neste ponto, o conjunto estruturado de novos objetos, ideias, métodos e técnicas configuram o que o autor denominou “ciência normal”. A ciência normal constitui a maturação do novo paradigma, que combaterá o anterior, até suplantá-lo definitivamente, assumindo a hegemonia no panorama científico. Por fim, advém a fase Pós-Paradigmática, onde os fundamentos do paradigma, então dominante, passam a ser questionados por outro que surge no horizonte científico. É o momento da sua crise: o paradigma entra em decadência e, finalmente, é suplantado por outro, no devir de uma verdadeira insurreição — Revolução — científica.
Se as ideias de Kuhn sobre as revoluções da Ciência estiverem corretas, é possível inferir que, no Brasil, o desenvolvimento da pesquisa em Educação foi marcado por radicais substituições de matrizes epistemológicas. No cômputo geral, a evolução dos seus paradigmas refletiu-se nas investigações nacionais, intercalando momentos de distanciada objetividade metodológica e outros cuja ascendência era da subjetividade. É certo que as ciências da Educação se utilizaram, inicialmente, dos métodos e procedimentos das suas coirmãs, naturais e exatas — com resultados, muitas vezes, desastrosos. Entretanto, tais elementos não foram suficientemente flexíveis para dar conta do universo educacional, em toda a sua exuberante incoerência. Assim, a despeito das suas revoluções, houve uma aproximação gradativa dos paradigmas adotados nas Ciências da Educação ao horizonte da subjetividade.
A pesquisa educacional brasileira foi fundada, nos anos de 1940, sob a égide do Positivismo. Pretendia-se neutra e, portanto, não disponibilizava espaço para a práxis na consecução das suas investigações. Incapaz de propor soluções efetivas aos problemas educacionais do país, o Paradigma Positivista foi substituído, na década de 1970, pelo de matriz fenomenológica. Franca reação — Revolução — à escola teórica anterior, o Paradigma Fenomenológico comportava alguma subjetividade, mas se predispunha contrariamente a qualquer tipo de intervenção metodológica na realidade pesquisada. Para suprir esta lacuna, uma década depois, veio o Marxismo a propor o seu Materialismo Histórico Dialético, cuja ênfase na praxis e na intervenção social tornava-o perfeito para a investigação no campo da Educação. Ainda que o Marxismo tenha se perpetuado como paradigma dominante, a pesquisa brasileira em Educação teve, nos anos de 1990, um breve flerte com o Estruturalismo e o Funcionalismo. No final da década, surge uma nova perspectiva epistemológica, ligada às teorias da Complexidade, que ainda não se consolidou como paradigma.
O escopo desta edição especial da Revista Olhares Docentes é o de abrir o debate sobre as questões que consubstanciam o desenvolvimento da Epistemologia da Educação, no Brasil. Esperamos que todos apreciem as nossas páginas.
Boa leitura!
Equipe coordenadora
Número de páginas | 168 |
Edição | 1 (2020) |
Formato | A4 (210x297) |
Acabamento | Brochura s/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Estucado Mate 150g |
Idioma | Português |
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