Impressões de um encantado
Uma deliciosa sopa de letras feita e aquecida em fogões de
lenha, com toucinho defumado, coentro e todos os sabores e cheiros
da cozinha apartada da casa com sua imensa varanda servindo de
refeitório.
Não fossem as imposições gráficas, este livro deveria ser
rabiscado e sem os rigores impositivos da gramática. Um enorme
rascunho de próprio punho. Ainda mais, impresso num papel de pão
com a capa de papelão coberto de chitão bordado por alguma vovó.
É um livro para se ler e revisitar. Seus textos, extraídos de
verdades e outras nem tanto, despejados por entre páginas como se
compensassem o verter de lágrimas contidas de um moleque de pés
encardidos de terra, com seus joelhos raspados e nariz remelento.
Talvez alguém consiga obter uma gramática mais apurada para
narrar tais ‘aventuras’, com menos vírgulas, quebras de idéias, vai-evens
por entre ruas tortas, campinhos acarpetados de bosta de vaca e
murundus, lógica de tempo e espaço jogados nos corixos. Talvez.
Mas perderíamos a fonética em seus resvalos de música, seus
escorregões e neologismos. Não poderíamos amarrar com a piola
estes sentimentos incrustados pelo lápis apontado nos dentes se
derramando por páginas ou, mais tarde, bem mais tarde, deixados
marcar em telas de computadores. Imagino o Edno tentando coordenar
suas idéias, conectá-las à gramática, dar-lhes sentido. Não há sentido.
A vida que ele nos narra é um viver sem sentido, pois faz uso de todos
os sentidos: Olfato, Olhar, Tato, Audição, Paladar e Molecagem. Todos
os seis.
Eu fui brindado com sua amizade, aprendi a conhecer a forma
bonita de compartilhar que ele traz desde a sua infância. Uma forma
bonita que amadureceu, mas não perdeu seu viço.
Fui brindado em trabalhar este livro, letra a letra. Brindar este
livro com meus erros. Comecei revisor, terminei aprendiz de uma nova
gramática. Paulistano que sou vim a perder o verniz industrializado das
letras para ser incensado com a fumaça daquele fogão à lenha de alguma
rua torta do interior do Mato Grosso do Sul.
Agradeço ter-me instruído a ponto de ser convidado para
trabalhar esta obra.
Agora, me despeço deste ineditismo e compartilho com vocês.
Encantamento foi o que aprendi.
Jornalista Dirceu Martins de Oliveira
ISBN | 978-85-99127-06-3 |
Número de páginas | 288 |
Edição | 1 (2015) |
Idioma | Português |
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