A palavra ermo aparece como verbete, no Vocabulario portuguez & latino, de dom Raphael Bluteau, de 1728, indicando, como substantivo, lugar solitário – admitindo-se, também, seu uso adjetival. Lembrar o significado da palavra explica, em partes, o título do livro. Ele nasce de uma motivação ligada ao sentimento que considero o mais nobre e que, ao inebriar o coração dos homens, faz com que eles mudem, sonhem, surtem, sorriam, chorem, vivam: o amor. Mais do que o sentimento em si, mas, uma situação de desapego dele é o que vivi no decurso de uns cinco anos passados, de 2013 a 2017.
Isolado, fechei-me a ponto de estragar quaisquer tentativas de reconciliação com o amor após o fim de um relacionamento, embora, não negue, tal sentimento tenha tentado me inocular nesse tempo. Ermei-me, de forma quase inabalável, talvez com medo de sofrer novamente ou de entregar-me com todas as forças do corpo e da alma a outro homem, como fizera anteriormente. Penso que a condição de eremita a que me impus representa, assim, um refluxo contrário a um dos medos infusos no homem: o de ficar sozinho.
Durante o lustro em que vivi a ermitania, encarnei, em mim, o sertão, no sentido do isolado, do distante, do despovoado, ainda que minhas paragens tenham sido vistas, tocadas, sentidas, vertidas, penetradas. Mas, não, efetivamente, conquistadas e colonizadas. Os poemas deste opúsculo, pois, são reflexo direto do estado em que vivi, afetivamente, como um ermitão, longe de ceder aos caprichos do amor, experimentando momentos sinestésicos dos mais diferentes matizes, tão clara ou escura se apresentava a realidade, ou, ainda, colorida, em algumas poucas situações.
A palavra Ermo nomeia o livro e é, também, uma maneira que encontrei, com o registro desse tempo eremítico, de lembrar e homenagear o meu pai. Embora ele tenha nascido no sítio Quarenta, sua infância, vivências e raízes estão encravadas no sítio Ermo, território de Carnaúba dos Dantas. No Ermo, o meu pai cresceu e tornou-se homem, a partir dos ditames de seus pais, Chico Macêdo e Raquelzinha. No Ermo, quando menino, em moradia de avós, tios e tias, passei breves temporadas, convivendo com meu povo, primos, conhecidos e amigos, cuja reminiscência nostálgica desperta recordações de um tempo inalcançável, mas, não menos gostoso de se lembrar.
Nas adjacências do Ermo fica, também, o sítio Forte, onde meu pai, Arnor Macêdo, reside atualmente. Foi no Forte onde, dia desses, reunimo-nos, irmãos, sobrinhos e avó materna, para almoçar com meu pai e, ao invés da sesta, pus-me a vagar pelos campos ressequidos do sítio. Na ocasião, encantei-me com uma colina onde, em seu cume, um pé de cardeiro se entrelaçava com dois de jucá, formando um portal para lugares não conhecidos e lembrando-me de como é bom abraçar e ser abraçado. Registrei a cena, por meio de fotografia, que poderá ser vista na capa do livro. As demais imagens do livro são, também de minha autoria, captadas em diferentes sertões na região do Seridó.
Tendo saído, posteriormente, do estado de ermitania, a lembrança dos tempos em que brotaram os poemas deste livro chega, indelével, como uma brisa suave de fim de tarde aqui pelos sertões. Hoje, ao olhar para o horizonte, na hora crepuscular, um turbilhão de cores é processado pela minha vista esperançosa no futuro, diferentemente dos outros tempos de tons de cinzas ou escuros. Ainda que novos ermos possam acontecer em minha vida, rogo para que o universo me permita, igualmente, também, ser conquistado e colonizado.
ISBN | 978-85-922634-4-7 |
Número de páginas | 64 |
Edição | 1 (2020) |
Formato | Quadrado (200x200) |
Acabamento | Brochura s/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 80g |
Idioma | Português |
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