Entre Abismos e Almas

O mesmo pesadelo. Sempre o mesmo. As mãos frias, a névoa

sufocante e aquele grito — um grito que não era de dor, mas de uma

perda tão profunda que rasgava a própria alma. Ele acordava,

ofegante, o coração batendo como um tambor de guerra no peito, o

quarto banhado pela luz pálida da lua, mas ainda preso na escuridão

de sua mente.

Não era apenas um sonho. Era uma memória. Uma visão de um

passado que ainda o assombrava, um perigo que ele sentia nos ossos.

E no centro de todo o medo, de toda a sombra que se esgueirava,

estava ela. Aquele amor que, apesar de tudo, permanecia uma âncora e

uma maldição.

Mas então, como um raio de sol rasgando a névoa mais densa, uma

nova imagem se impunha. Uma risada leve, o cheiro de terra molhada

após a chuva, o brilho de olhos que prometiam um novo amanhecer.

Uma vida que ele não pensava que pudesse ter novamente, resgatada

das cinzas de um passado que insistia em não morrer.

O mundo adormecido lá fora não sabia, mas as rachaduras antigas

estavam se abrindo novamente. E o fio que ligava duas vidas — uma

antiga, envolta em dor, e outra, nova e vibrante — estava prestes a ser

puxado com força, arrastando-o para o inevitável reencontro com as

sombras que o perseguiam. E ele, pela primeira vez em muito tempo,

não sabia qual delas o libertaria ou o consumiria.