Apresentação
Por Vera Lúcia da Silva *
Meu amigo João, esse tão jovem sexagenário, que, não bastasse, estreou nesta vida em pleno fevereiro, dia 28 de 1947, em uma fazenda de um distrito do Município de Jacobina, BA, é um ser diferente.
Posso falar do livro (Em cada canto) sem falar de seu artífice? Creio não ser coerente... João é outro João da Literatura Brasileira, nas palavras de Drummond imenso, encantado! Meu amigo João é encantado na sutileza do andar, nos gestos firmes e suaves; é encantado no levantar a sobrancelha (é possível fazê-lo mais!?) galhofeiramente. Meu amigo é encantado por que não pertence a este tempo/espaço tão árido de afetos verdadeiros, de vontades, de gente que crê em gente e o faz através de palavras ou de singelos agrados. Tenho certeza, ele não é daqui!
Quanto ao poeta, penso que este se agiganta de tal forma, que faz sombra sobre o homem; o poeta João transcende o homem João pela ousadia, pelo despudor, pelo voo, pela profundidade, pela força do desejo expresso, daquele realizado e não-realizado; transcende, enfim, pela pureza da linguagem (?), pelo recato, pelo erotismo latente, vibrante em poemas outros, como em “Heptagamia” (in Suave é a luz da poesia, pág. 48, 2010).
Meu poeta João, angustiado, pergunta “Por que canto?” Arrisco aqui algumas respostas “encontradas” em poemas deste livro propositadamente dúbio, e de outra obra sua. Meu poeta João canta por que é um resistente, por que não desiste de seu “intento afônico de cantar”, por que sua “voz ecoa baixinho”, por que seu “som poético ressoa humilde e inaudível entre os paredões do rochedo íngreme”.
Meu poeta João canta por que procura a “palavra letal para dizer o quanto o mundo é...”; ele canta por que precisa falar da morena vestida de chita do tempo que se foi, levando consigo as varandas, “a cadeira na porta da casa”, a prosa de vizinhos e amigos sem hora marcada.
Meu poeta canta por que precisa falar das nuanças da chuva, das loucuras desse admirável mundo novo (ou seria louco?); canta por que precisa dialogar com Cecília, Drummond e Gullar, e, tal como eles, se expor nas bancas de jornal, vender palavras, mutilar-se pelo outro, pela poesia. “Se o poeta não se mutila/ ao tomar como seus os sofrimentos alheios,/ como dizer que são belas/ mesmo assim/ as flores que emurcheceram/ no seu caminho dourado?” (in Os animais de meu sítio e outros poemas, Fingimento de poeta, pp. 73-4, 2010).
Ao ler “Em cada canto”, encontrei-me eu menina, eu menina-moça, encontrei meu pai, meu passado e meu presente; senti saudades dos lugares onde nunca estive e de tempos nos quais não vivi, senti o gosto do café que nunca tomei e da prosa que nunca tive ao portão de uma casa que meu poeta me deu de presente.
Seus textos engrandecem a Literatura poética.
É por isso que o poeta não desiste... Ele canta por que é preciso cantar...
Vera Lúcia
(professora de Língua Portuguesa
no CETEPES, Teixeira de Freitas, BA)
Número de páginas | 123 |
Edição | 3 (2011) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 80g |
Idioma | Português |
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