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Num dos dias daquele março, lá fora, a calçada tremia sob um sol de quarenta graus, antes da chuva da tarde. Sentado confortavelmente a uma poltrona, pernas cruzadas, numa antessala qualquer, cidadão refestelava-se no ar refrigerado. Trajava paletó e calça marrons. Usava chapéu de feltro claro e sapatos lustrosos. Tinha um ar de superioridade que os da terra não têm, e folheava, indolentemente, meio com nojo, um jornal do lugar.
De repente, algo lhe chamou a atenção e ele ficou um bom tempo a ler e a analisar alguma coisa talvez interessante. Do alto da sua omnipotência, então, dirigiu a palavra ao caboclo que se encolhia no canto de um sofá:
- Amazônicos não fazem versos e acreanos sequer sabem o que vem a ser prosa. Esta crônica não pode ter sido elaborada por alguém daqui. Isso é coisa de gente do sul, ou do sudeste. Está um primor.
Ao que o interlocutor, agora com o peito estofado, falou grosso:
- Moço, apesar do seu preconceito, devo lhe dizer que o autor dessa crônica é de Xapuri, e eu conheço por aqui umas dúzias de outros acreanos que fazem coisas iguais ou até melhores.
Pois bem. Dois raios de sol e meio palmo de lua traz a fórmula básica usada pelos da terra. Há simplicidade, antes de tudo. É a história compacta em pedaços separados de partes de uma vida. Nas próximas páginas, há singeleza, ironia, sutileza, picardia, torneios sintáticos, sarcasmo e deboche em boa medida, figuras de estilo e retórica, tudo, num sotaque marcadamente amazônico a perder de vista.
ISBN | 978-65-900-9030-0 |
Número de páginas | 472 |
Edição | 1 (2019) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Ahuesado 80g |
Idioma | Português |
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