Bicentenário da Independência

Recomeço ou Nada

Por Thiarles Soares Silva

Código do livro: 570213

Categorias

Política Cultural, Nacionalismo, História E Mapas, Não Ficção, Filosofia, Ciência Política

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Sinopse

Sobre o livro Bicentenário da Independência

Thiarles Soares Silva é um escritor brasileiro e publica seu livro de estreia no gênero ensaio/dialógico, com uma obra de não-ficção chamada Bicentenário da Independência, comemorativa pelo Bicentenário da Independência. Um trabalho que é, na intenção do autor, um diálogo aberto com a Brasilidade, dialogando com as grandes obras não-ficcionais ao povo brasileiro que ajudaram a moldar o pensamento nacional, entre elas a Carta de Achamento do Brasil e os Diálogos das Grandezas do Brasil, são obras que influenciaram a construção de um pensamento nacional e possibilitaram sua posterior independência. São obras que construíram a nacionalidade. Mas o autor denuncia um grave problema que se abateu sobre a nossa cultura; ao longo dos anos, a cultura e o senso de patriotismo brasileiro foi decaindo até o que ele considera o “silêncio abissal” em pleno bicentenário. O que era para ser o novo ápice da cultura nacional, tornou-se no decreto de seu estado moribundo. Ainda há espaço para o patriotismo no Brasil? Esta palavra ganhou ao longo do século XX conotações negativas, por isso, toda a classe falante nacional procurou se afastar dela.

Eis alguns trechos que o leitor verá nesse livro que é singular na produção recente nacional:

"Não estou a escrever para bajular patriotas e a nenhuma corrente política. Não vim para dar tapinhas nas costas de nenhum que venha a se dizer “defensor” do bem comum ou dos interesses nacionais. Eu vim para desmascarar a falsidade que impera entre as classes falantes, sobretudo aquelas que se vendem como representantes da vontade popular. Se alguém quiser saber qual é a minha corrente de pensamento, direi que sou eu mesmo e os meus juvenis anos de vida transcorridos, imaturos e iletrados, ignorados por quaisquer “defensores da civilização” de cujas vozes ressoam nos ares muito superiores da grandiloquente cultura nacional. Mas eu creio que tenho algo a dizer para você que queira saber mais do sentido de ser brasileiro no Brasil do século XXI, e que sente seu orgulho nacional maculado pela indiferença ou mesmo complexo de vira-lata que nos impingiram nas últimas décadas: o Brasil é mais do que essa mesquinharia onipresente. Se você está aqui, é porque sentiu já no título a carência do que é ser brasileiro.

...

O espírito de ruptura é o da recriação da nacionalidade: a cada geração, surge um grupo de intelectuais que querem recriar o sentido de nacionalidade, rompendo com o que existiu e com o que existe, e fazendo algo novo, que não existe, e que não se conecta com a história se não para difamá-la e fazê-la odiável aos brasileiros; e nesse espírito de ruptura, querem modificar a história do Brasil, fazendo ignorar ou odiar o próprio passado, ou vê-lo de modo alheio, com desdém, ao que foi realmente. O espírito de ruptura não tem fim, porque ele não pode apagar a existência dos laços humanos, por isso, ele tem que continuar atacando, de geração em geração, mesmo quando o que ele ataca já está há muito tempo morto.

Havia chegado o ano de 2022 quando percebia o problema: havia um silêncio entre aqueles que pensavam no futuro do Brasil, como que ignorando o seu passado, ou lendo o país e sua história em vista de uma política modista atual. Essa forma de ver o Brasil, a partir do presente, reinterpretando o passado, vem desde os primeiros anos de nossa independência. É que era necessário procurar uma narrativa que justificasse o discurso do momento. No começo era o discurso de se libertar de Portugal, depois o discurso de se livrar do Império, depois o discurso de se livrar da República Velha, e depois, de Vargas, e depois, da democracia; de Jango; dos militares; dos comunistas; dos revolucionários; dos esquerdistas; dos conservadores; do patriotismo; da história; do futuro; e aí chegávamos, enfim, em pleno ano de 2022, sem um alarde ou comemoração pelos 200 anos de nossa independência histórica. A pergunta foi e ainda é: por quê? Por que o silêncio constrangedor do patriotismo em pleno bicentenário ignorado pelo povo e ainda mais pelas classes falantes?

O Brasil é o País da Esperança, e o contrário da esperança é a angústia; se nós nos deixamos ser tragados pela angústia, não teremos a alegria para a esperança que adviria, porque esperança é uma confiança que age e se percebe como partícipe da vida, a angústia é um desespero, um fechar-se para ser uma luz acesa debaixo da cama. A luz ainda não pode retornar para si mesma, para o próprio umbigo, a luz é por sua natureza uma reta que se impõe ao olhar. Somos o país da esperança, mas também somos o país da angústia, de uma ansiedade que afasta a ordem do porvir e nos faz apressar para hoje o que deve ser plantado agora, e a querermos colher o que ainda não pensávamos plantar ontem.

A nossa força (do Brasil) está em se adaptar, mas isto deve ser usado para criar o belo, o bom, o agradável, o útil, o que perdura para além de nós mesmos; só se faz algo assim quando se tem amor pelo próximo, quando se deseja o sucesso e a perenidade do próximo e não só de si mesmo. Não é possível construir uma sociedade perene, quando de tempos em tempos muda-se não só a roupa, como o rosto, o cabelo, os olhos, o cérebro, o corpo, a língua, a herança intelectual inteira e se ignora a história[4]. A história é na realidade o intercâmbio de tudo isto, é a memória memorável e memorizada memoravelmente. Isto se dá por meio da arte. A ciência só ajuda a aprimorá-la, mas não pode substituí-la, nem subjugá-la, como muitos cientistas sociais ou pedagogos pensavam.

A Bíblia pergunta se pode um país nascer em um só dia, se pode uma nação ser gerada de uma só vez; ora, essa pergunta possui dois sentidos, ao meu ver, um negativo e outro positivo: não, não pode nascer em um só dia, um país leva tempos e tempos para nascer e se desenvolver, este tempo é de gerações, séculos, e um senso de comunidade muito forte alicerçada por uma cultura comum, de nível superior ao inferior, como um influxo que recai dos grandes aos pequenos; sim, pode, um país já nascer com o seu sentido de nacionalidade, restando às futuras gerações apenas o compreender mais e mais este sentido, participando de sua construção. Ambos os casos estão certos, e em ambos os casos se realiza no Brasil.

É caro para um brasileiro viajar e conhecer sua própria terra, vizinha ou outra qualquer, o que dirá de outros estados, não é raro um brasileiro do Sudeste ou Nordeste que só conheça a Amazônia pela televisão ou pelo “ouvir falar”, o mesmo se dá com o Nordeste, que já se tornou para o povo que vive no Sudeste, um lugar quase mítico de pobreza, humor e rudimento sertanejo, apesar dos milhares de nordestinos que vivem no Sudeste, mas também eles sofrem da mesma limitação e vivem dos estereótipos, antes reforçando-os que sanando-os. Para o habitante do Sul do Brasil, ver aterradoramente a quase barbaridade que são outras regiões do país para ele, o faz desejar menos ainda conhecer o continente em que vive, achando que basta estar onde está, e no máximo conhecendo o seu próprio estado ou os vizinhos. De fato, os sulistas conhecem melhor a si mesmos que os de outras regiões consigo mesmos, mas todos são igualmente alienados entre si, e o outro só é conhecido por estereótipos, e tendo as novelas da televisão como intermediário para se imaginar conhecer o país. Em tal estado de coisas não devemos nos admirar de tamanha alienação.

Como já falávamos, se formos buscar as raízes desse deserto mudo e ensurdecedor, que paira no deserto de ideias que se tornou o Brasil, ideias quais miragens a cruzar dunas infinitas, sem propósito algum que não o empobrecimento e imbecilização de toda a gente, veremos que são os intelectuais brasileiros os culpados em primeira via desta estupefata situação de angústia[1]. São eles, com seus livros e ideias bajulatórias para tudo o quanto se convém chamar de arte e sublime, quando não são, que com sua ignorância histórica e raciocínios falsos, levam a este espírito de alienação, que leva até mesmo o Estado Brasileiro a ignorar uma decente coordenação comemorativa pelos duzentos anos do país. E aqui, vale nos desdobrarmos para o curioso fenômeno de um governo patriota que não fomentou o patriotismo:

O Estado Brasileiro foi então de gargalo em gargalo, entrando numa depressão que mais indica a doença do que o vigor de suas instituições. Se para que o país dê importância a alguma coisa que tem importância nacional, precisa do aval da mídia, este país efetivamente está acabado ou nunca existira de fato.

Conforme já foi dito, a mídia foi sempre muito valorizada no Brasil, desde sua independência, mas no momento que ela adoeceu, também adoeceu o Brasil junto com ela, e adoeceu porque o Brasil já estava doente antes. Deveríamos falar porque adoeceu, que doença é esta que fez com que a mídia, isto é, os meios de divulgação social e cultural do Brasil, adoecesse, caísse de nível, para em seguida adoecer quem dela se alimenta, a saber: a Academia, escola, Estado, governo, artistas; para depois vermos se há ainda uma esperança para este colapso cognitivo nacional.

No futuro, este livro cumprirá seu objetivo: será a testemunha do silêncio, e de um patriotismo doente e moribundo, de um Brasil que completava duzentos anos de independência, como que invadido pelos bárbaros de dentro e pelos bárbaros de fora, todos como pretensos defensores do povo brasileiro, este alineado como sempre, e como todo povo é. Mas a maior defesa de um povo é a de sua própria inteligência, e se esta é pautada por modismos midiáticos, então não se tem defesa nacional alguma. A batalha entre os intelectuais do corpus separatum brasílico e o estamento burocrático brasileiro continuará, na virada do terceiro século pátrio, pela verdadeira independência da pátria."

“...Mas para que nesta parte magoemos ao Demônio, que tanto trabalhou e trabalha por extinguir a memória da Santa Cruz e desterrá-la dos corações dos homens, mediante a qual somos redimidos e livrados do poder de sua tirania, tornemo-lhe a restituir seu nome e chamemo lhe Província de Santa Cruz, como em principio… porque na verdade mais é destimar, e melhor soa nos ouvidos da gente Cristã o nome de um pão em que se obrou o mistério de nossa redenção que o doutro que não serve de mais que de tingir panos ou cousas semelhantes.” Pêro de Magalhães Gândavo, História da Província de Santa Cruz

E assim exposto fragmentos do que há no livro, entre muitas outras coisas e aprofundamentos, o leitor poderá mergulhar no estado da cultura brasileira atual.

Características

ISBN 978-65-266-0735-0
Número de páginas 270
Edição 1 (2023)
Formato 16x23 (160x230)
Acabamento Brochura c/ orelha
Coloração Preto e branco
Tipo de papel Ahuesado 80g
Idioma Português

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Thiarles Soares Silva

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