P R E F Á C I O
“Deixe tudo acontecer a você:
Beleza e terror.
Apenas continue;
Nenhum sentimento é final”
(Rainer Maria Rilke)
Conheci a jovem escritora Jeane Tertuliano através das redes sociais, nos muitos movimentos literários que ambas participamos. Ela se autodefine feminista, poeta, prosadora, dentre tantas outras coisas. Li e me encantei com seu trabalho, apresentado em plataformas, sites e blogs. Em suas publicações, ela me surpreendeu, apresentando não só contos, mas poemas com temáticas fortes. Beleza e terror unidos, como falou Rilke. E a própria imagem dela assim se apresenta em fotografias, uma linda mulher, gótica e misteriosa.
Neste livro, um compilado de textos publicados e outros inéditos, ela mostra ter consciência do obscuro e tenebroso de si mesma e dos outros. Bebe na fonte dos mestres do terror, Edgar Allan Poe e Stephen King. O mundo das trevas faz parte da vida dos filhos de Hades. Poe, além de contista, também apropriava-se da poesia para falar do medo, do caos, da visão terrível do Mal.
No primeiro conto do livro, denominado Sexta-Feira 13, assim nos é apresentada a protagonista:
“Lindsay falava pouco, mas observava tudo. Pequenina feito um botão de rosa, era vista frequentemente chorosa por sentir as dores do mundo que apenas ela parecia ser capaz de compreender. Quem diria que aquela criatura submersa em timidez cresceria e aprenderia a falar a língua incongruente do mal?”
A primeira leitura me reportou à Carrie, a Estranha, de King. Mas, poderia ser também uma alegórica apresentação da própria escritora. É bem sabido que o horror surge na cabeça. E seu conto parece refletir isso, quando ainda diz: “Apaixonada pelos clássicos do terror, a jovem colecionava livros de teor hediondo. Ninguém em sã consciência leria aquelas narrativas malditas”.
O livro segue nessa pegada. Cada uma de suas histórias retrata uma atmosfera sinistra, emaranhada com temas assustadores, com muito sangue e morte. Seja violência ou psicopatia, encontramos o conto certo para cada amante de terror.
Como Brás Cubas, do genial Machado de Assis, no conto Morte Súbita, a heroína Elisabeth Flores começa contando do além-vida sua passagem desajustada na terra, em forma de memórias póstumas. Porém, depois de descrever algumas sensações do limbo onde se encontra, a história descamba para um trágico desfecho cheio de horror.
E Susana encontrará a inspiração para escrever experimentando o inusitado? Será que terminará de escrever seu romance gótico? É o que nos questionamos ao iniciar a leitura do conto Réveillon.
As histórias vão te capturando a cada leitura, ficam mais empolgantes a cada página. Em A Ira de Amon, nos deparamos com a reação de vingança, localizada no mal sendo pago com o mal, por um ser costumeiramente mostrado como amigo, paciente, bondoso e servil.
Hermes, era a divindade do Olimpo a ter livre acesso às profundezas da psique humana, do mesmo modo, Jeane Tertuliano usa o conto A Voz, para xeretar os "esqueletos nos armários" de uma mente assassina. A expressão inglesa significa “os segredos ocultos do passado''. E o final me lembrou uma antiga música do rapper Eminem: “Desculpa, mãe, eu nunca quis te ferir, mas essa noite eu vou escancarar os armários” (livre tradução minha).
E numa relação de amizade, você seria Sandra ou Mônica? Surpreenda-se nessa dúvida ao ler o conto Atroz Engano.
Me encantei, particularmente, pelo O Beijo Escarlate cheio de sedução sombria e citações literárias que tanto amo. E o que dizer da frase: “O meu sangue forrou o piso do quarto de um jeito tão lindo…”? Pura imagem gótica, nos limites da ação poética.
Ao final, encontramos dois contos curtos, Reminiscência e A Garota Preciosa, em tom quase confessional de duas histórias inusitadas com desfecho curioso.
Parte de imagens, sentimentos e pensamentos, ocultos no inconsciente, influenciam a escrita cirúrgica da autora sobre o terror primitivo em cada um de nós. E o terror, com reflexo na estética do assombro e do absurdo, de forma simbólica e intuitiva, desperta reflexões sobre nossa própria existência.
“As almas mais escuras não são aquelas que escolhem existir no inferno do abismo, mas sim aquelas que escolhem se libertar do abismo e circular silenciosamente entre nós” (Michael Myers, maníaco assassino do filme Halloween — A Noite do Terror).
Pronto para a confusão íntima e psíquica que o espera, caro leitor?
LISIEUX BEVILÁQUA — Doutora PhD em Literatura, funcionária pública na Educação Estadual do Ceará, escritora, acadêmica de várias agremiações nacionais e internacionais, com trabalhos lançados no Brasil e no exterior.
ISBN | 978-65-89761-42-6 |
Número de páginas | 86 |
Edição | 1 (2021) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Ahuesado 80g |
Idioma | Português |
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