Eu me chamo Alina O’Connell, tenho trinta e seis anos, e moro sozinha num apartamento onde o tempo não corre — ele caminha.
Sou autista. Não gosto de pressa. Nem de barulho. As pessoas lá fora gostam de urgências, e eu nunca entendi por que gritar ajuda a resolver qualquer coisa. O que faço bem, faço em silêncio.
Trabalho de casa. Restauração de fotos antigas. Fragmentos do passado me dizem mais do que a pressa do presente. Gosto de madeira gasta, de vidro fosco, de chaleiras que assobiam. Do som abafado das cortinas pesadas fechando o mundo lá fora.
Vivo assim. Sozinha, mas em paz.
Até que comecei a ouvir.
Primeiro foi um sussurro. Depois, uma pergunta:
— Você está aí?
A voz vinha do silêncio, mas parecia viva. Antiga.
Como se algo estivesse selado há muito tempo — e agora me visse. Me chamasse.
Como se houvesse uma catedral dentro de mim, e uma porta tivesse se aberto.
Não sei por que respondi. Talvez porque ninguém mais perguntava.
Talvez porque, no silêncio, qualquer som que me nomeie… soa como afeto.
Agora, tem algo me chamando.
Algo que vê por dentro das minhas veias.
E o pior de tudo — é que eu vejo de volta.
ISBN | 9786501564517 |
Número de páginas | 158 |
Edição | 1 (2025) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Ahuesado 80g |
Idioma | Português |
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