JACKELINE SIQUEIRA FORMIGA é natural de Palmeira dos Índios, Alagoas. Filha de uma costureira e um caminhoneiro, mudou-se para Maceió para realizar o sonho de infância de estudar Direito na Universidade Federal de Alagoas, onde concluiu o curso em 2001. Desde então, atua como advogada militante e hoje conta com vinte e quatro anos de carreira.
Sempre gostou de escrever e recitar versos, mas foi somente a partir de 2021 que passou a utilizar sua rede social para publicar alguns poemas, compostos, inicialmente, de versos feitos para homenagear sua mãe, já falecida, tal como fez na poesia “Essa noite eu sonhei com ela” e “Desde o dia em que partiu, eu carrego você aqui dentro”, e declarar seu carinho a seus irmãos e sobrinhos, além de versos de cunho subjetivo.
Ao longo do tempo, no entanto, entendeu que ali seria um canal para abordar temas que poderiam ir além de poemas subjetivos e passou, então, a utilizá-los para questões sociais e políticas. Inicialmente publicava as poesias escritas, às vezes apenas alguns trechos delas. Posteriormente resolveu recitá-las. A necessidade surgiu quando fez o poema “Aqui, no meu Nordeste, você não se cria”, em resposta a uma fala xenofóbica do então Presidente da República. O vídeo teve ótima aceitação. Passou a usar a rede social como canal de resistência contra falas misóginas, homofóbicas e racistas de políticos da época. Nasceram poesias como “O que é assédio sexual contundente, diz aí, Presidente” e “Era uma vez um país chamado Brasil”. Algumas poesias eram recitadas interpretando uma personagem nordestina como forma de protesto ao preconceito com o sotaque da região e para ironizar a extrema direita; assim aconteceu na poesia “Eu quero falar com você, patriota” e “À noitinha, o Nordeste entra em cena”. Ao longo do tempo, temas mais difíceis foram abordados, a exemplo da poesia “Não violente seu corpo, se ela lhe disser um não”, poesia feita para denunciar a violência sexual, e “Queremos respeito, ao nosso corpo, nossa fala, nosso direito”, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. Abordou, também, temas antirracistas, a exemplo das poesias “Eu não sou morena” e “Dia da Consciência Negra”. E homenageou a comunidade LGBTQIAPN+ com a poesia “Hoje, é de lei, é dia do orgulho gay”. A poesia foi usada, também, como forma de reverenciar a cultura nordestina, tal como “Em noite de São João”. Os poemas têm um estilo eclético, por vezes, são irônicos, outras tantas, românticos, bem-humorados e até ácidos, tendo em vista que os vê como forma de expressão para denunciar, resistir, declarar seu afeto e polemizar.
O projeto de Os Olhos de Júlia e os Cabelos de Álice surgiu no final de 2021 com a necessidade de escrever algo maior, mais inclusivo, e foi a partir de um sonho angustiante, o qual, já acordada, a autora transformou em uma historinha boba de amor para aplacar a angústia e recuperar o sono que nascia seu primeiro romance.
Em janeiro de 2022, desenvolveu a escrita do romance ao longo de cinco meses, como a autora costuma dizer: “Fui tomada por horas de inspiração e prazer pela escrita, a ponto de me desesperar por meus dedos não acompanharem a rapidez com que eu a desenvolvia em minha mente, levando-me a descobrir que ela não surgiu de um sonho angustiante, ao contrário, ela já estava em mim há muitos anos.”
Assim, o que era para ser um livro de poucas páginas, transformou-se em uma quadrilogia e a levou a grande descoberta de que: “O sonho foi só a ponta do iceberg que me despertou para o fato de que Júlia e Álice são duas faces de uma só Jackeline.”
Em junho de 2022 concluiu a escrita dos três primeiros volumes da série que seria dedicada ao público lésbico, em especial, e a toda comunidade LGBTQIAPN+.
Com uma narrativa totalmente ambientada em Alagoas, especialmente em Maceió, onde reside, a quadrilogia tem o interesse também de divulgar as belezas naturais do Estado e as expressões linguísticas e culturais do povo nordestino.
A narrativa gira em torno do amor de Júlia e Álice, no entanto, a história também servirá de pano de fundo para tratar de temas sensíveis, tais como violência doméstica, racismo estrutural, homofobia, machismo, relacionamento abusivo, privilégio de classe, dentre outros. Temas que são discutidos em longos diálogos entre as personagens ou em cenas explícitas de racismo e homofobia, por exemplo, causando sentimento de indignação e conduzindo o leitor a várias reflexões. Tudo envolvido por um mistério sobre as reais intenções das personagens.
Os Olhos de Júlia e os Cabelos de Álice, como já dito, tem a intenção de representar e introduzir a comunidade LGBTQIAPN+ nos romances alagoanos e lutar contra o preconceito que existe em relação a união homoafetiva. Foram incluídos no livro alguns casais representativos, tais como Heloísa e Maria, que lutam não só contra a homofobia, como também contra o preconceito da diferença de idade, Maria tem 50 anos, Heloísa, 30, e estão casadas há mais de dez anos, provando que o amor não tem o limite de idade que o etarismo quer definir. Outra personagem significativa na história é Elis, mulher lésbica, negra e feminista, casada há anos com Margot, mulher negra e muito bem-sucedida, criadas para derrubarem o estigma de que mulheres negras não podem ser bem-sucedidas. A personagem de Elis, forma com Júlia, mulher branca, uma dupla unida no combate ao racismo, mostrando que é preciso união para acabar com esse mal. O livro tem preocupação também em combater o machismo, para isso utilizamos dois personagens que servem de contraponto, Ricardo, apelidado por Júlia e Elis de “macho alfa fofinho”, que representa o homem machista engraçado e que passa despercebido como tal, e Rui, vilão da história e que representa o homem machista sedutor e cruel ao mesmo tempo. Ambos são utilizados como metáforas da sociedade patriarcal, para mostrar as várias faces do machismo. Júlia e Elis servem como mulheres que lutam contra o patriarcado, seja confrontando Ricardo, seja confrontando Rui. Outra personagem criada para combater o machismo e o privilégio masculino é Simone, mulher traída que supera dificuldades e se livra da relação abusiva com o marido. Álice, mulher cis, branca, rica, é utilizada, por sua vez, dentre outras coisas, para mostrar que os privilegiados de classe podem se juntar na luta contra os abusos cometidos contra as minorias étnicas.
Os Olhos de Júlia e os Cabelos de Álice – Livro 1: Não Adianta Fugir foi lançado em dezessete de agosto de 2023 na 10ª Bienal de Alagoas e lhe rendeu o prêmio: “Mulheres que Escrevem Alagoas, 2024”, organizado pela Biblioteca Estadual Graciliano Ramos em parceria com a SECULT-AL.
Os Olhos de Júlia e os Cabelos de Álice – Livro 2: Ela resolveu que ficou em primeiro lugar no concurso estadual para custeio pela Lei Aldir Blanc e foi lançado em vinte e três de novembro de 2024.
Os Olhos de Júlia e os Cabelos de Álice – Livro 3: O acerto de contas, tem lançamento programado para outubro de 2025 e pretende concluir a trama de mistério envolvendo as personagens e abrir novas perspectivas para o quarto e último volume, no qual será ampliada a inclusão da comunidade LGBTQIAPN+ com a introdução na história de uma mulher transgênero.
Além da quadrilogia Os Olhos de Júlia e os Cabelos de Álice, já se encontra em fase de elaboração outras três obras com histórias distintas, todas com temática LBGT, nicho ao qual a autora se identifica e tem lugar de fala.
Em julho de 2025, foi empossada na Academia Palmeirense de Letras, Ciência e Artes – APALCA em cerimônia realizada em Palmeira dos Índios, sua cidade natal.
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