Alícia mergulha fundo em seu passado e traz à tona minúcias de acontecimentos marcantes, valendo-se de sua notável memória afetiva e os revive na tentativa de compreender e refazer seu destino, ainda que tardiamente. Garota de sonhos modestos, trabalha desde muito cedo como modelo, mais com intenção de ajudar sua família que por vaidade. Seus pais enfrentam uma grave crise financeira provocada pelo desemprego da era Sarney, no final dos anos 1980, e se veem obrigados a mudarem-se de seu bairro de nascimento, localizado na zona sul de São Paulo, passando a morar num apartamento emprestado por uma "tia rica". Localizado num icônico edifício, cartão-postal do centro da cidade e de marcante arquitetura, fora utilizado diversas vezes, na vida real, como palco de vídeos musicais, fotos e eventos, incluindo um filme policial do tempo da Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Nesse requintado cenário, Alícia envolve-se com uma turma de amigos. Um deles, em especial, (Eric Adler), um jovem e rico empresário, morador do edifício vizinho, lhe suscita uma mistura de sentimentos desencontrados: paixão e repulsa, fascínio e medo. A partir desse encontro sua vida muda radicalmente. Possuidora de uma marcante beleza, doçura e inteligência, Alícia, no entanto, enxerga-se muito menos do que realmente é. Tal mistura de ingenuidade e modéstia a torna presa fácil da sanha de rapazes inescrupulosos como Eric. Somente o amor de Victor, seu primeiro namorado e noivo, poderia lhe salvar de sua tragédia iminente. Sem perceber, porém, a teia de sedução que a envolve de maneira implacável, vê-se enredada num confuso triângulo amoroso. O romance possui múltiplos temas, contudo, o destaque são os relacionamentos abusivos e sua complexa e dúbia dinâmica que confunde quem nela se envolve e principalmente quem assiste a tudo de fora, cuja impressão é de que o abusado ora parece masoquista, ora uma espécie de portador da síndrome de Estocolmo. Os papéis são invertidos e a vítima acaba por se tornar culpada. Sem compreender o malicioso jogo de Eric, Alícia, ao descobrir seu sombrio lado de mulher-objeto, experimenta sentimentos de angústia e culpa, ao mesmo tempo que se vê incapaz de abandonar seu algoz. Sua trajetória de vida também aborda o preconceito de classes, o abismo social entre ricos e pobres, além da frieza e aspereza da vida na metrópole. Entremeados, acontecimentos históricos reais figuram na trama que é dividida em duas partes: anos 1990 e dias atuais. O texto foge à regra do romance clássico: o discurso direto se faz presente, de tal maneira que o leitor terá a sensação não de ler um livro, mas de assistir à uma série de TV. A autora é bastante detalhista ao descrever os ambientes, encarnando a protagonista que vai narrando tudo como se possuísse um scanner que capta desde as profundezas da personalidade de cada personagem, até o mais ínfimo detalhe dos lugares que a cercam, tudo carregado de um forte acento emocional. As sinestésicas e profundas experiências emocionais de Alícia são um convite para repensar a dor cotidiana e as tragédias pessoais reais que raramente encontram voz na literatura atual, além de enfatizar o cenário de concreto da maior metrópole da América latina, com seus amores e terrores. Haverá amor em São Paulo?
ISBN | 978-65-000-8674-4 |
Número de páginas | 551 |
Edição | 1 (2020) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 80g |
Idioma | Português |
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