A PRESENTE obra reúne ensaios veiculados no fanzine Panfletário, publicado com o apoio da Academia Contagense de Letras, de abril de 2003 a janeiro de 2004, além de outros ensaios escritos por motivo do curso superior de Letras, cursado por mim durante três semestres na Universidade Federal de Minas Gerais.
Alguns textos foram escritos no calor da hora, como um rodapé de crítica literária dos idos do início do século 20. Perguntando ao mestre Murilo Marcondes de Moura se este sentia algum saudosismo dos antigos rodapés, o mestre respondeu que sentia. O mesmo mestre, entretanto, advertiu em uma das suas aulas que, se o crítico contemporâneo se aventurasse por tais escritos amadores, passaria pelo ridículo.
A fim de evitar passar pelo ridículo e para fazer jus à distin-ção que Afrânio Coutinho faz de crítica literária “séria” e resenha amadora, logo passo para o lado dos amadores. Não por convicção, mas por inexperiência. O bom crítico literário, não há dúvidas, deve apresentar uma escrita clara, consistente e primorosa, diferentemente do meu estilo ainda balbuciante.
Tenho ciência de que o presente trabalho foge ao rol das obras importantes que contribuem para o contexto cultural de uma época. Passados alguns meses, este livro estará nalgum sebo integrando a dita obsolescência cultural.
De todo, a alegria do lançamento, a confraternização com os próximos, a divulgação, os autógrafos, tudo isso se integrará a mitologia sentimental do autor. Preterida a obra, promovida a vida literária, caímos na farra da indústria cultural onde o autor se sobrepõem à obra? Bem, se este for o resultado do lançamento deste livro, será um resultado lamentável, afinal, ao que nos parece, nossa época convoca a intelligentsia a assegurar a saúde da reflexão em torno dos valores nos convoca a arrefecer a vaidade e a autoimportância e tomar posições claras em relação aos estímulos do meio e da época, e onde uma autocrítica sincera se faça presente.
E qual a face do nosso contexto? A superficialidade das relações humanas? A revitalização de maniqueísmos? O culto ao evento em detrimento do ser? O senso comum travestido de bom senso? O politicamente correto? O utilitarismo? As massificações de toda ordem? O excesso? A coisificação do ser humano? A apologia do sexo sem sexualidade? [o falo fala? perguntaria o amigo Jairo Martins Neto] A ausência de utopia? [os avanços metodológicos e tecnológicos implicam a falência da utopia? ou somente da utopia cuja acepção não signifique sonho, idéias, desejo?] Somos os filhos do fim da História? Tempos de vazio? indiferença? Desencanto? Podemos virar a página em direção a próxima geração? Inquietações atuais? antigas? tolas? Infelizmente, tais questionamentos extravasam o escopo deste livro, todavia, convidam o leitor para uma posterior reflexão desinteressada.
“Lugar de intelectual é na rua”. A identificação com a epígrafe impressa na contracapa do livro Apontamentos de crítica cultural, de Beatriz Resende da UFRJ, ou seja, com o estatuto teórico dos estudos culturais [cultural studies, Inglaterra, 1980/90] e o diálogo que estes estabelecem com os estudos literários legitimaram teoricamente minhas incursões por Contagem a procura de obras, escritores e poetas, andanças e pedaladas iniciadas em agosto de 2001, e impulsionadas em outubro do mesmo ano por ocasião da fundação da Academia Contagense de Letras, ato do qual fui signatário.
Um ano depois, por volta de agosto de 2002, comecei a organizar uma antologia literária de Contagem, com objetivo de reunir em livro ao menos um texto de cada um dos escritores e poetas da cidade . Pasme-se o leitor, deixei de passar férias com a família em Porto Seguro-BA em janeiro de 2003 para procurar escritores e poetas em Contagem. E o trabalho continua. Já foram descobertos mais de setenta criadores literários em Contagem, cerca de trinta com livro editado e uns poucos com colaborações em periódicos e na internet.
O surgimento deste livro, como foi dito no início, deve-se à publicação, de abril de 2003 a janeiro de 2004, do nada sério Panfletário. Trata-se de um fanzine canastrão e jocoso que produzi e distribui entre confrades de academia, amigos, autoridades, editores de jornal, no qual veiculei ‘ensaios’, alguns deles revisados e reescritos para aqui constar, além de textos de autores envolvidos com o meio literário da cidade.
Das cartas, ressalto aquela intitulada Outra Contagem, que juntamente com o panfleto Você sabia?, distribuído anteriormente e ausente neste livro, causaram um saudável mal-estar no meio cultural da cidade.
Ainda na arena da cultura, apresente sete entrevistas realiza-das com personalidades de Contagem, que possuem algum valor devido ao registro inédito que estabelecem.
Por fim, peço ao leitor que interrompa a leitura antes de en-trar nos poemas. Adentraremos em território anímico, no reino das palavras e das interioridades. Despoje-se do espírito objetivo, do olhar viciado, desentorte os ouvidos. Tentei evitar escrever poesia de fatos, afetações e idiossincrasias, como ensina Drummond, embora os poemas estejam atravessados de ontologias. A estética convoca a ética e as vivências assaltam o estado poético. O lírico que vem da vida. Lede com carinho, são cinco poemas que arrematam a miscelânea.
VFC
“O modo como reagimos ao que lemos está muito mais relacionado com o que se passa em nós do que com o conteúdo dos livros”, Bruno Bettelheim.
Número de páginas | 135 |
Edição | 2 (2004) |
Idioma | Português |
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