Marcuse interpretou filosoficamente o pensamento de Freud, e tratou do tema "retorno do reprimido", que no campo filogenético corresponde, na sócio-história cíclica e de longa duração, ao retorno da insurreição cultural e prática da juventude impelida por Eros, e que consistiu, na época do Jesus Histórico, na insurreição dos jovens liderados por Jesus e seu grupo de referência, e grupos análogos. Assim, Marcuse focaliza a volta de Jesus, e a possibilidade de desenvolvimento de uma sociedade não-repressiva, que seria análoga ao genuíno modelo de formação social desencadeado por Jesus, e concretizado por seus genuínos Apóstolos e por sucessores destes. O modelo de formação social constituída de comunidades igualitárias, articuladas entre si em rede descentralizada, de natureza fraternal, pacifista, liberal do gênero, da família, da nação, do Estado, etc. Rede essa empregada, estrategicamente, como meio de resistir e combater todas as formas de instituições em rede centralizada e autoritária, ao exemplo da igreja dos fariseus, dos saduceus, o Império Romano, etc., e da reacionária igreja criada, ulteriormente, por Paulo de Tarso o Anticristo. O qual estabeleceu acordo tácito com as autoridades desse império, para combater o genuíno cristianismo. Enquanto Paulo o Anticristo combatia, de modo sofístico e ideológico, a revolução igualitária e liberal, as autoridades do Império combatiam, fisicamente, por meio do extermínio precedido de martírio.
Marcuse mostrou que a incrementação do autoritarismo, violência, perversidade e repressão contemporâneas, na realidade pode ser indício de resistência, à aproximação do retorno do Reprimido. Mostro que essas formas de resistência e a referida aproximação vêm acompanhadas de uma longa, grave e irreversível crise socioeconômica e política. Essa crise implica na incrementação da exploração dos segmentos trabalhadores, que provocará um processe abrupto ou de ruptura - um novo "dilúvio" - do sistema articulado pela grande rede global de mercados macrorregionais, do processo de produção capitalista globalizado, e também do sistema monetário e financeiro, o qual está, desde as décadas 70-80, autônomo e unificado globalmente.
Jesus confirmou a previsão catastrófica feita por Daniel, pertinente ao perverso modelo de sistema monetário e financeiro da época do Império Macedônio, em que Daniel viveu e analisou tal sistema, e que ambos chamaram de abominação da desolação, e prognosticaram, operando com a teoria da genealogia de Adão, que esse modelo perverso de economia voltaria a ocorrer, por ocasião da segunda vinda de Jesus.
Quando adentrarmos no contexto de ruptura indicado acima, esse contexto deve favorecer a incrementação do modelo de formação social horizontal, ou seja, o desenvolvimento de comunidades igualitárias de natureza liberal, pacifista fraternal articuladas entre si em rede descentralizada. Nesse contexto, deve ocorrer, também, a queda da hegemonia do "valor de troca", em favor do "valor de uso".
Focalizo a articulação entre a noção de "insurreição dos saberes dominados" (Foucault), e, o "retorno do Reprimido" (Marcuse). Assim, podemos considerar a insurreição focada por Foucault, na realidade histórica, como um preparatório cultural para o retorno do reprimido.
Demonstro que nunca existiu, propriamente, um "pai primordial do tipo Édipo". Mas, sim, um "ideólogo-serpente primevo", que desenvolveu e seus sucessores (os blocos ideológicos das nações) vêm mantendo a divisão e oposição social do trabalho material e intelectual. Assim, ele deu início, primeiramente, ao Período Matriarcal. Depois, ao Período Patriarcal. No qual, "ideólogo-serpente primevo" condicionou e seus sucessores vêm mantendo a estrutura familiar, nos moldes da estrutura social criada por ele. Isto é, a divisão e oposição social do trabalho material e intelectual, e correspondente forma de propriedade privada, que se reproduz: o pai como proprietário da mulher e dos filhos.
O "ideólogo-serpente primevo" impusera e seus sucessores (os blocos ideológicos das nações) vêm mantendo o seu modelo de conduta e de propriedade privada, que lhes são próprios. Os blocos ideológicos das nações, induzem, condicionam e moldam o tipo tradicional de família patriarcal. Sem que o pai seja, necessariamente, também ideólogo-serpente. Desse modo, o bloco ideológico constituído de ideólogos-serpentes molda, de modo hegemônico, mas dissimuladamente, na família, a partir da comunidade em que ele se desenvolveu, a estrutura triangular edipiana.
Em razão do quadro indicado acima, Jesus combateu, estrategicamente, de um lado, concentrando a sua luta, contra o "ideólogo-serpente primevo" e respectivo bloco ideológico, que no seu caso imediato consistia nos teólogos e sacerdotes fariseus e saduceus e, do outro, ele rompeu e ensinou ao indivíduo, a também romper com o modelo tradicional e vicioso (estrutura triangular edipiana) de família moldada. Jesus convocou cada indivíduo a pegar a sua "cruz" (afixação de conduta em instituição coletiva) e segui-lo. Não somente quanto a conduta afixada, moldada ou crucificada pelo modelo tradicional de família, mas também em todos os demais grupos ou instituições sociais (tribo, religião, nação, Estado, etc.), igualmente moldados pelo "ideólogo-serpente primevo", ou melhor, pelos seus sucessores e respectiva divisão e oposição social do trabalho. Instituições nas quais o indivíduo esteja com os seus respectivos papeis sociais e condutas como que "crucificados". Assim, Jesus convoca cada indivíduo a acompanhá-lo na transformação individual e na libertação do interior desses grupos moldados pelos ideólogos-serpentes. Desse modo, o indivíduo se libertaria, simultaneamente, "ontogenética" e "filogeneticamente", tanto do "ideólogo-serpente primevo" como da estrutura triangula edipiana. A qual é condicionada e moldada por esse modelo de ideólogo. Nessa direção, Jesus criou um novo modelo de instituição familiar, e ensinou:
"Não julgueis que vim trazer a paz à terra. Vim trazer não a paz, mas a espada. Eu vim trazer a divisão entre o filho e o pai, entre a filha e a mãe, entre a nora e a sogra, e os inimigos do homem serão as pessoas de sua própria casa. 'Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a mim, não é digno de mim. Quem ama seu filho mais que a mim, não é digno de mim. Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Aquele que tenta salvar a sua vida, perdê-la-á. Aquele que a perder, por minha causa, reencontrá-la-á" (Mt 10, 34-39).
"Jesus falava ainda à multidão, quando veio a sua mãe e seus irmãos, e esperavam do lado de fora a ocasião de lhe falar. Disse-lhe alguém: 'Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar-te'. Jesus respondeu-lhe: 'Quem é minha mãe e quem são os meus irmãos?' E, apontando com a mão para os seus discípulos, acrescentou: 'Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Todo aquele que faz a vontade do meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão e minha irmã e minha mãe" (Mt. 12, 46-50).
ISBN | 978-85-910864-6-7 |
Número de páginas | 248 |
Edição | 1 (2018) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 80g |
Idioma | Português |
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