Eu precisei escrever este livro.
Eu precisei publicar este livro.
Embora o tom seja autobiográfico, é ficção.
Ao mesmo tempo, não é.
Porque muito do que vivemos no Brasil, nos últimos quatro anos até 2022, eu só pude entender olhando para trás. Vi, então, uma multidão de cenas. Que no entanto não era uma multidão. Havia e há um sentido. Foram cenas que deram no que vivemos neste país. E no que temos de transformar para ter o país fraterno, próspero, iluminado e iluminista, múltiplo, que sonhamos.
Mas que não é o sonho de muita gente brasileira. Algo que não começou agora, nem em 2019. Algo que já existia, quando eu era criança. Na minha família. Na minha mente e no meu espírito.
Pelo menos, desde quando comecei a vivenciar este Brasil de hoje. Entendi o presente, olhando o passado, e entendi o passado, costurei as cenas que assombravam minha memória, a partir da linha e sentido que ganharam neste presente.
O reacionarismo que tentou nos isolar do mundo, do conhecimento, das descobertas, avanços e maravilhosas revelações da ciência, e do ímpeto civilizatório – o fluir irresistível do tempo –, que tenta nos arrastar para trás e nos ancorar ao que não se pode mais suportar, nem admitir, eu o conheci, quando ainda não tinha rosto tão formado, e fui entranhado por ele, assim como comecei a me amputar dele, ali, anos atrás.
Mas e as ameaças de cancelamentos?... tive dúvidas, hesitei, senti medo de publicar este livro.
Mas foi mais forte a necessidade de dizer que eu era assim. E dizer sem retoques, nem omissões, até me doendo escrever. Foi o que fiz aqui – confesso, tomado por uma nostalgia estranha. Sem querer retornar, mas tendo saudade do que eu fui, ou do que foi. Rejeitando a saudade. Sentindo saudade. Sabendo, então, que descobria, ao escrever este livro, que só pude me tornar diferente tendo enxergado o que eu era.
Não significa que superei os conflitos íntimos entre passado e presente, e que não lute, cotidianamente e até em meus sonhos (e pesadelos) com o que se mantém, desses anos, dentro de mim.
É parte de mim. Afetivamente, é algo que continua em mim. Sendo eu. Por isso, para mim, e para transformar, é tão crucial reconhecer...
A gente era assim!
ISBN | 9786500664522 |
Número de páginas | 0 |
Edição | 1 (2023) |
Idioma | Português |
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