O novo livro do poeta Solon de Sousa tem nome esquisito: Carissimidades/Poesia Cem. Somente os poetas entendem os poetas e, como prefaciador, não devo explicar nada à maioria dos leitores. Como prefaciador, não devo explicar nada a ninguém, nem mesmo ao autor. O que o poeta diz ou escreve tem sua linguagem cifrada em poesia e poesia não se explica. Lemos, interpretamos como queremos ou podemos. Assim, ninguém perguntaria ao poeta: “O que é que você quer dizer com isto?” Esta pergunta seria uma ofensa a qualquer autor. E o prefácio significa uma apresentação do livro, do seu autor, e tal como o prefaciador entendeu ser necessário e bom para os leitores. Numa apresentação não se faz críticas. Tecesse elogio ou não se faz. Como poderia recusar uma apreciação à poesia de Solon, se já fiz o mesmo no primeiro livro, que achei muito bom como estreia?
Feito este exórdio, passemos ao que interessa. Já li o amigo José Solon de Sousa em seu primeiro livro, como disse: Depois li outro livro de sua autoria, em prosa, denominado Você é meu orgulho. É um cidadão de caráter, probo e competente médico, natural de Jaicós-PI. Mas hoje tem também endereço em Picos. Excelente amigo, não tem apego a dinheiro, gosta muito de música e compõe composições populares, estilo atualmente em vigor na mídia brasileira. Como médico, conhece profundamente sua profissão. Na literatura, o que ele deseja expressar é sua alma, por dispor de tempo e por motivos vários de sua vida, o que não fez antes por falta de espaço e tempo, pois estava sempre ocupado nos estudos e no trabalho. Literatura serve também para isto. E ele o faz muito bem. Seus ritmos são singulares, letras com rima comuns, mas algumas vezes aparecem metáforas não usuais. Assim, não somente o nome do livro é esquisito; assim parece o autor e sua poesia. E qual o poeta que não é esquisito?
É necessário que o leiamos com cuidado, carinho e amor. O poeta merece.
Entretanto, eu recomendaria aos leitores sobretudo os poemas curtos sobre problemas humanos e científicos que, muitas vezes, parecem descritivos, mas se assim o são é por necessidade de um vocabulário que nem todo leitor comum tem. Nem mesmo os poetas, como este prefaciador, que nada sabe de ciências. Outro tipo de poemas que vejo com muito bons olhos são aqueles que tratam do campo, da roça, das árvores, das lagoas e riachos e dos passarinhos, quando, com alegria, o rancho de sua propriedade animam. Citarei o título de alguns: “História viva”, “Andropausa”, “Amor amor”, “Ainda bem”, “Voltarás” e “Viveiro”, entre outros. Uns biográficos, outros científicos (misturados com poesia em contradições e metáforas) e os políticos. Não gosto de política em poesia, porque a política da poesia é a forma, o ritmo, linguagem figurada (que fica bem distante da linguagem comum). Mas daí vem a contradição ao poeta: como ser popular, sem o vocabulário do povo?
Por que falar tanto do livro e do poeta e não mostrá-lo?
Eis aqui um dos seus poemas que apresenta a maior originalidade, um modo comum de os poetas começarem suas obras, dizendo a que vêm e como são:
“Quem vai querer?/ Uma casa onde tem poesia/ tem luxo. / Não que seja uma casa cara / É uma casa caríssima. //Caríssimos poetas / Caríssima é a poesia!/ Caríssimas virtudes / Caríssimos colegas.// Uma casa onde impera outras casas caras // Não tem luxo/ tem ostentação. / É uma casa cara. //Sem carissimidades... //Poesia Cem É a minha cara/ Quem vai querer? // Sem forma / Sem estrutura / Sem endereço // Sem id / Ou revide.// Sem pé / Nem cabeça. /Sem Nada.// Contudo // Isso// Ilhéu imaginário. // Em número // Original / Estilo: // Solon Reis Jacob”.
É seu estilo no livro todo, o qual explica sua poética, seu modo de fazer.
Observemos que já o grande poeta Fernando Pessoa inventou vários poetas (heterônimos famosos) em si mesmo para poder expressar bem o que era e o que podia não ser. O grande dramaturgo inglês Shakespeare escreveu: “Eu não sou quem eu pareço ser”. Por essas palavras, sabe-se que a vida só não basta, precisa-se da literatura, do teatro ou de outra arte que nos expresse. Quem seríamos nós sem a palavra? Nos dias de hoje, nós, poetas, nos sentimos frustrados porque não somos considerados gente, porém animais estranhos, do tempo dos dinossauros, que foram resistindo, com resiliência, alguns escapando pelo fio da música ou do teatro. Mas nos conformamos em saber que a poesia vem primeiro, vem sempre e chega sempre.
Voltando um pouco à poética de Solon de Sousa, ninguém se espante porque ele repete as palavras, brinca com elas. A repetição é um bom recurso da poesia. Veja a música, repete-se e desrepete-se. O mesmo truque da rima vem junto, completa. Não importa o descritivo para a música ou para a poesia: o importante é que contenha mistério (ou mistérios), pois somente nas almas eles são captáveis. Poesia é alma, é espírito feito carne em palavras. Digo sem querer repetir algo da Bíblia, todos somos a semelhança do espírito de Deus.
FRANCISCO MIGUEL DE MOURA
Número de páginas | 148 |
Edição | 1 (2020) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 80g |
Idioma | Português |
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