PREFÁCIO
Um olhar sobre a depressão. Há beleza em tudo o que é triste, no olhar distante, no desespero da espera morta, na percepção da ilusão da vida, no caos humano, até na discórdia.
Eu, como poeta, como a vejo, o quanto sei sobre esse tema? Poeta deve saber sobre tudo o que faz parte do ser humano, e não há nada mais humano do que a dor da alma. Especialistas do ramo da ciência, nesse contexto da depressão, como psiquiatras e psicólogos afirmam que a depressão é uma doença cruel e destrutiva, a doença do século.
Sei bastante sobre ela, pois sou humano, talvez eu não seja acometido por ela como os verdadeiramente doentes são, muitos que sequer sabem a gravidade dessa doença. Contudo, todo ser humano sofre, em algum momento da vida de depressão. Eu posso afirmar que na literatura, muitos dos geniais espíritos que produziram obras imortais sofreram de depressão profunda, cito por exemplo, Fernando Pessoa. Fernando, o poeta insuperável, sofria de depressão. Os que o conhecem sabem que ele bebia muito, teve uma vida medíocre de contador, e não teve sua genialidade reconhecida em vida, por isso ele deixou de forma explicita a depressão revelada em seus melhores poemas, vejam esse exemplo no poema A tabacaria:
(...) Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo
que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça
de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.(...)
Para mim, a depressão não é um desprezo agudo pela vida. O livro de Carlos Terceiro trata de forma cientifica também do suicídio, pois a depressão tem sido de fato, talvez a causa mais presente como doença nos que praticam o suicídio. Eu devo dizer mais sobre as minhas próprias vivências, sejam elas reais ou do que aprendi com o estudo profundo da literatura, sobretudo da poesia.
Florbela, poetisa portuguesa, outra alma da mais elevada erudição na poesia, sofria, creio que mais agudamente de depressão do que Fernando Pessoa, talvez por ser mulher, pela repressão que enfrentou em seu tempo. Ela cometeu suicídio, depois de várias tentativas deu cabo a sua própria vida. Seus poemas revelam seus pensamentos mais profundos sobre o efeito da depressão, contudo não podemos dizer que por isso ela não fora boa poeta, pelo contrário, a depressão na poesia está muito mais presente nos grandes poetas, nas grandes almas.
A depressão de forma controlada pode ser musa essencial para o poeta, pois falar do sofrimento e do caos humano é matéria infinita, matéria-prima essa da qual os grandes poetas sabem fazer uso muito bem.
Concluímos assim, que a depressão é comum entre todos os seres humanos, antes, muito antes de ser postulada, sobretudo por grandes estudiosos do tema como Freud, Nietzsche e Lacan, a depressão era conhecida, especialmente na arte, na poesia e na literatura como melancolia, gênios como Vincent van Gogh, Santos Dumont e outros sofriam dessa devastadora melancolia.
Eu ainda prefiro dizer que Wilhelm Reich tem razão quando fala que todo ser humano sofre da peste emocional, seria, a meu ver, a depressão, a peste que consegue atingir todos nós, ainda podemos visitar a angústia de Sartre, como dito todos os grandes pensadores, poetas, artistas e escritores se preocupavam com esse tema.
Penso que este livro vai contribuir bastante para provocar mais debates, estudos e também pode influenciar novos escritores, a se debruçar sobre esse tema, com o fim de contribuir para sanar, entender e combater esta mazela que é hoje reconhecida como a doença do século.
Evan do Carmo
ISBN | 978-85-924126-9-2 |
Número de páginas | 87 |
Edição | 1 (2019) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 90g |
Idioma | Português |
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