Cada texto é um enigma a ser decifrado. E quando o texto a ser lido tem a riqueza e a complexidade do livro do Êxodo, o empreendimento não apenas se toma fascinante e sedutor, mas também exige, de nossa parte, um esforço supremo para revelar seus sentidos e vasculhar seus recantos. Pretendemos, nas páginas a seguir, realizar uma exploração do sentido desses textos, para que nos possam ajudar - desde que estejamos abertos à sua mensagem — a entender os nossos próprios desafios e perguntas. Pois o Êxodo - como a Bíblia em geral - não é como a luz de um farol, que ilumina o cruzamento, mesmo que ninguém passe por ele durante toda a noite. Ler um texto assim requer nossa participação ativa e exige que façamos a parte que nos cabe. O enigma quer ser decifrado. Mas ele não será se não contribuirmos com o que somos e não nos arriscarmos a interpretá-lo. Para escrever este comentário, foram feitas várias opções prévias, que lhe dão a forma e a personalidade. Essas opções têm a ver com os aspectos teológicos e metodológicos utilizados para abrir o texto, observá-lo a partir de vários ângulos e tentar contribuir para uma compreensão de sua mensagem, que fosse relevante para a nossa época e situação. Nesse sentido, o presente livro é, em primeiro lugar, um livro teológico. Nossa preocupação maior não é determinar o que, em suas páginas, é histórico e o que é legendário. Tampouco investimos esforços hercúleos em encontrar explicações racionais para os frequentes acontecimentos maravilhosos e incompreensíveis narrados em suas páginas. O leitor perceberá que a relação entre história e texto, assim como é entendida neste comentário, não é a habitual. Por isso podemos admitir que raramente se encontra história nas páginas do livro do Êxodo - se é que existe - e, ainda assim, considerá-lo um livro que causou impacto como poucos na história. Isso se deve ao fato de que o livro do Êxodo não pretende ser um livro de história, no sentido estrito do termo, mas antes uma obra que faz crescer a história ao narrar um novo capítulo do encontro de Deus com a humanidade e ao dar um sentido, a partir de suas páginas, às lutas por libertação, à paixão pela justiça e à busca por dignidade para os povos oprimidos dentro de uma profunda relação espiritual e existencial que abarca todos os âmbitos da vida. Isso o livro alcança colocando em cena uma série de acontecimentos e situações que refletem, com um realismo insofismável, nossa condição humana. Seus personagens são capazes de realizar as crueldades mais terríveis, como o genocídio e o assassinato de bebês, mas também feitos heroicos, como o de desobedecer ao homem mais poderoso da Terra. Encontramos desde o clamor que brota da angústia da opressão até a ternura de quem se comove com o choro de uma criança abandonada. Em suas páginas, a fé e a idolatria disputam a hegemonia; o chamado de Deus é questionado e rejeitado numa intensidade que nos surpreende. Percorrer suas histórias leva-nos do voo livre de belíssimas narrativas à nitidez precisa das leis, da minuciosa descrição da Tenda à não menos minuciosa narrativa da construção desse santuário. E tudo isso acontece no contexto de uma obra que inicia com um Deus quase desconhecido aos personagens e que termina com o Deus que se revela a si mesmo, identifica-se, decide habitar no meio de seu povo e, por fim, descreve e promove um projeto de libertação para os escravos, que somente se concretizará com a posse da terra já além do Pentateuco.
Número de páginas | 129 |
Edição | 1 (2022) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Tipo de papel | Estucado Mate 90g |
Idioma | Português |
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